Wednesday 29 October 2008

Mamma Mia

Nunca é de mais referir, que odeio musicais. Musicais causam-me "bretoeija". Musicais despertam em mim instintos homicídas desconhecidos. E perguntam voçês, porque é que eu fui ver este filme? Resposta: Porque teve que ser. Pessoalmente acho todos os nºs musicais do filme uma parvoíce pegada. Pontos positivos: as musicas em si dos ABBA são grandes clássicos, belas paisagens, é divertido, temos a oportunidade de ver o Pierce Brosnan numa das figuras mais ridiculas imagináveis. Quem gosta adora, quem não gosta diverte-se.

Título original: Mamma Mia
De: Phyllida Lloyd
Com: Meryl Streep, Amanda Seyfried, Pierce Brosnan, Colin Firth
Género: Com, Mus
Classificação: M/6

ALE/EUA/GB, 2008, Cor, 108 min. (IMDB)

"Mamma Mia!" foi um dos musicais mais vistos e aplaudidos (por 30 milhões de pessoas em 170 cidades pelo mundo), ao som da música dos Abba. Agora, vai provavelmente tornar-se o grande filme de Verão.
Donna (Meryl Streep) é uma mãe solteira e independente que gere um pequeno e idílico hotel numa ilha grega. A filha Sophie (Amanda Seyfreid) vai casar e para o casamento Donna convida as suas melhores amigas. Mas Sophie, que secretamente sonha encontrar o pai, faz também três convites inesperados. À ilha chegam três homens (Colin Firth, Pierce Brosnan e Stellan Skarsgard) que pertenceram ao passado de Donna, sendo que qualquer um deles pode ser o pai de Sophie. Em 24 horas, Donna desespera e tudo pode acontecer, até porque com um casamento por perto o romance anda no ar.in Publico

Crítica:
Greatest hits com história

Não é a primeira vez que um acervo de canções pré-existentes é retrabalhado para um musical. Um dos clássicos absolutos do cinema americano - "Um Americano em Paris" (1945), de Vincente Minnelli - foi construído à volta de composições pré-existentes de George Gershwin, que morrera em 1937. E o recente "Moulin Rouge!" (2000), de Baz Luhrmann, reunia dezenas de êxitos pop da segunda metade do século XX, de Nat King Cole aos Nirvana.

Mas "Mamma Mia!" é uma "ave rara": transporta os "greatest hits" dos Abba praticamente intactos em termos de sonoridade, à excepção de acertos pontuais para adaptar a canção à personagem ("Does Your Mother Know" e "Lay All Your Love on Me" "mudam de sexo") ou leves actualizações de arranjos sem por isso alterar "o som Abba", nem reescrever o passado.

Faz sentido que assim seja num musical onde as canções são verdadeiramente o que interessa: Benny Andersson e Björn Ulvaeus, as "eminências pardas" do grupo (que, depois da dissolução em 1982, escreveram dois musicais...), já se tinham investido na supervisão da produção de palco, e reuniram para o filme a banda de estúdio presente nos discos originais para garantir a fidelidade à fonte.

Depois, bom, depois põem-se os actores a cantar - afinal, a tradição do musical é que os actores sejam capazes de representar, cantar e dançar, mais complicado hoje em dia que o "star system" dos estúdios se desagregou e em que o teatro musical se tornou num "nicho" estanque. Mas como a ideia de "Mamma Mia!" é a de uma festa-karaoke onde não faz mal que não se cante bem, não é problemático que Colin Firth, Pierce Brosnan ou Stellan Skarsgard não sejam exactamente Pavarottis. Até porque a maior parte das canções são entregues às personagens femininas - correspondendo também aí às gravações originais, cantadas maioritariamente por Agnetha Fältskog e Frida Lyngstad - e Meryl Streep e Amanda Seyfried, que fazem o "grosso da despesa", têm óptimas vozes.

O que acaba por surpreender mais em "Mamma Mia!" é o facto de Catherine Johnson e Judy Craymer terem conseguido encontrar um fio condutor que permite a canções criadas isoladamente fazerem sentido enquanto um todo. Nem todos os clássicos estão representados - as letras de "Fernando" ou "One of Us", por exemplo, não se prestavam à estrutura central da peça/filme, sobre uma jovem noiva que procura descobrir qual dos três namorados que a sua mãe teve 20 anos antes é o seu pai. Mas os que estão (e que vão de "Dancing Queen" a "Super Trouper" passando por "Voulez-Vous" ou "The Winner Takes It All") fazem todo o sentido dentro da história que serve de ligação - e só mesmo os resmungões se vão queixar de faltar esta ou aquela canção.


Jorge Mourinha

Sunday 26 October 2008

Coudelaria de Alter

Antiga Coudelaria Real, uma das instituições mais importantes para a divulgação do nome de Alter do Chão. Fundada no reinado de D. João V em 1748, para produção de cavalos, para a Picaria Real.


Oriundo da Coudelaria de Alter era o famoso cavalo "Gentil", modelo de cavalo da estátua de D. José no Terreiro do Paço em Lisboa. A Coudelaria viveu um período de apogeu até à primeira década do século XIX, seguindo-se uma fase de períodos conturbados. Em 1942, englobada a Coudelaria numa Estação de Fomento Pecuário e com a intervenção do Dr.- Rui de Andrade, inicia-se a recuperação do Cavalo Lusitano, Ferro Alter Real.



Hoje, a continuidade do Cavalo Alter está assegurada. A homogeneidade da éguada é notória e as características como Cavalo de Alta Escola são exibidas pela Escola Portuguesa de Arte Equestre. Na Coudelaria de Alter, funciona ainda a Escola Profissional Agrícola de Alter do Chão, com os seguintes cursos: Curso Técnico de Gestão Cinegética e Técnico de Gestão Equina.


História:


(1736) A fundação da Coudelaria de Alter não foi um acto ocasional e isolado. Surgiu como corolário lógico de um tempo histórico e de uma política coudélica, personificados em D.João V, o Rei Magnânimo.


(1748) A ordem da Junta do Estado e Casa de Bragança, de 9 de Dezembro de 1748, marca a fundação da Coudelaria de Alter, e tem o significado simbólico de " Registo " da Tapada do Arneiro como " Solar " do cavalo de Alter-Real. O documento fundacional da Coudelaria de Alter foi emitido por D.João V.


(1749 - 1770) É ao Rei D.José I que, quase inteiramente, cabe o mérito da estruturação da Coudelaria de Alter: Formação da manada, instalações coudélicas, alargamento do assento agrícola e da área de pastoreio, promulgação do primeiro regime coudélico que vigorou na Coudelaria. A Casa Ducal de Bragança foi, como executante da vontade Régia de D.João V e de D.José I, o esteio da fundação e estruturação da Coudelaria de Alter.


(1771 - 1800) A Coudelaria é, então, da Casa Real que a recebeu, em 1770, da Casa de Bragança, num quadro de relação bem definido ; a Casa de Bragança, proprietária dos prédios utilizados pela Coudelaria de Alter ; a Casa Real, reconhecida como senhoria da manada, e na situação de rendeira daqueles prédios. Na Picaria Real, em Lisboa, o ensino de D.Pedro de Meneses, 4º Marquês de Marialva e Estribeiro - Mor da Casa Real, alcança a perfeição no rigor da técnica, na beleza dos movimentos, na elegância das atitudes. O Cavalo Alter-Real atinge o seu esplendor.


(1801 - 1820) A primeira vintena do século XIX foi um período de sombras para a Coudelaria de Alter ; roubo dos melhores cavalos Alter-Real, danos nas piaras, redução na área do pastoreio, vandalismo nas instalações, primeiras ameaças à integridade étnica da manada. Em defesa da Coudelaria de Alter agiganta-se, neste período de sombras, a figura do Princípe Regente D.João. Mas era uma luz longínqua, no Rio de Janeiro, e em Portugal o Marechal inglês Beresford. Era o poder.


(1821 - 1841) Da Nacionalização das Reais Manadas à usurpação da Coutada do Arneiro Questionada até à existência da Coudelaria de Alter. E mais uma vez D.João, já como Rei. A merecer um registo de memória no historial da Coudelaria de Alter.


(1842 - 1910) Um longo tempo de dificuldades e sobressaltos para a Coudelaria, mas também de graves ameaças à integridade étnica do Cavalo Alter-Real, foi o tempo dos cruzamentos.


(1911 - 1941) Proclamado o regime republicano, e arrestados os bens da coroa, a Coudelaria é integrada no Ministério da Guerra, na dependência da comissão técnica de remonta, com o nome de Coudelaria Militar de Alter do Chão. O tempo da Coudelaria Militar é uma presença notável na planificação das instalações e na racionalização da exploração agrícola da Coutada do Arneiro.


(1942 - 1995) Em Janeiro de 1942 dá-se a integração da Coudelaria no Ministério da Economia, na jurisdição da Direcção-Geral dos serviços pecuários. Começava um longo caminho de meio século de recuperação do Alter-Real. A recuperação do Alter-Real foi um esforço tenaz e persistente, com tempos de grandeza e de crise, de maior dinamismo e de mais apagada acção, mas, indiscutivelmente, um esforço coroado de sucesso.


(1996) Arranque de uma nova etapa Preservar e valorizar o património genético e cultural que a Coudelaria de Alter encerra e simboliza … Um caminho que se dirige em exclusivo ao cavalo mas que passa, também, pelo desenvolvimento sócio-económico cultural e turístico do norte alentejano. Mérito de definir e traçar esse caminho coube, em 1996, ao engenheiro Fernando Van-Zeller Gomes da Silva, ministro da agricultura. Um destaque que lhe é devido no memorial da coudelaria; · Pelo respeito com que contemplou o passado; · Pela ambição com que perspectivou o futuro da Coudelaria Alter-Real.



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Saturday 25 October 2008

Rio das Flores


De Miguel Sousa Tavares
Oficina do Livro 2007

No global gostei.
Tenho sentimentos antagónicos em relação a este “romance”, por um lado é recheado dos factos que formaram a primeira metade do século XX tornando-se um belo testemunho de uma parte da nossa história, a ascensão do Estado Novo no contexto geopolítico da época, por outro, o excesso de informação e datas é por vezes monótona, por um lado temos a visão da vida no Portugal de então, em tantas coisas análogo ao nosso, por outro a história das personagens é basicamente estagnada. Como romance pouco me entusiasmou, algumas coisas até me confundiram como ser humano. Como é que alguém com um casamento feliz aos mais vários níveis, sem nunca ter tido uma discussão de potencial ruptura que fosse com a esposa, pura e simplesmente a decide trocar por outra? Pareceu-me uma solução cómoda em contra censo a toda a criação do personagem até então. Como relato histórico do mundo e do nosso cantinho está muito bom, deu-me oportunidade de aprofundar os meus conhecimentos sobre uma época que o sistema de ensino, do meu tempo pelo menos, fez por se esquecer que existiu. A meu ver a componente histórica compensa o romance e por isso posso dizer que gostei.



Sevilha, 1915 - Vale do Paraíba, 1945: trinta anos da história do século XX correm ao longo das páginas deste romance, com cenário no Alentejo, Espanha e Brasil. Através da saga dos Ribera Flores, proprietários rurais alentejanos, somos transportados para os anos tumultuosos da primeira metade de um século marcado por ditaduras e confrontos sangrentos, onde o caminho que conduz à liberdade parece demasiado estreito e o preço a pagar demasiado alto. Entre o amor comum à terra que os viu nascer e o apelo pelo novo e desconhecido, entre os amores e desamores de uma vida e o confronto de ideias que os separam, dois irmãos seguem percursos diferentes, cada um deles buscando à sua maneira o lugar da coerência e da felicidade.

Rio das Flores resulta de um minucioso e exaustivo trabalho de pesquisa histórica, que serve de pano de fundo a um enredo de amores, paixões, apego à terra e às suas tradições e, simultaneamente, à vontade de mudar a ordem estabelecida das coisas. Três gerações sucedem-se na mesma casa de família, tentando manter imutável o que a terra uniu, no meio da turbulência causada por décadas de paixões e ódios como o mundo nunca havia visto. No final sobrevivem os que não se desviaram do seu caminho.

Crítica:
Rio das Flores é uma história simples. Todo o romance se consegue resumir a um parágrafo, pois basicamente, não se passa nada de importante na vida das personagens até poucas páginas do fim.
Os Ribera Flores vivem em Estremoz, são a típica família alentejana. Diogo e Pedro são os herdeiros da herdade onde vivem. Diogo é o oposto do irmão, sonhador, ambiciona construir família, mas num país livre, onde possa gozar a vida, ler os seus livros, os seus jornais, sem censura. Já Pedro, é a favor da ditadura, acha que o Estado Novo faz com que Portugal desenvolva. É um patriota fincado.
Além de Estremoz, a história desenrola-se (ou não, porque o novelo do enredo é solto a 30 páginas do fim) em Lisboa, em Espanha e no Brasil. Lisboa é a cidade de escape de Diogo, gosta daquele ócio que se sente por lá, de ter as notícias daquilo que acontece no mundo em primeira mão. É em Lisboa que decide juntar-se a dois homens e construir um negócio de exportação de bens do Brasil. E é por este negócio que Diogo começa a viajar para o Brasil e a começar a gostar cada vez mais do país.
Pedro continua confinado a Estremoz, mas decide, um dia, lutar na Guerra Civil Espanhola, depois de uma desilusão amorosa.
Toda a história se desenrola mais ou menos na primeira metade do século XX, abrangendo a Primeira Grande Guerra, a queda da República em Portugal, a Guerra Civil Espanhola e a Segunda Grande Guerra. Para um autor jornalista, tem aqui muito material por onde pesquisar e por onde pegar, para que as suas personagens se envolvam nos acontecimentos que marcaram esta metade do século. E esse é, talvez, o maior erro de Rio das Flores, todos estes acontecimentos são demasiado explorados. São páginas e páginas seguidas de descrição de acontecimentos de qualquer uma destas guerras, onde raramente se toca no nome de alguma das personagens. O romance está visivelmente dividido em dois. Há a parte da evolução das personagens (que é quase nula) e a parte dos acontecimentos históricos (que de nula, as suas descrições não têm nada).
Claro que é de louvar o grande trabalho de pesquisa que Miguel Sousa Tavares fez para este livro mas, o que se destaca mais neste livro não é a história das personagens, mas sim o relato histórico daquilo que acompanha as suas vidas, o que não é o mais importante num romance. Talvez, num próximo livro, Miguel Sousa Tavares consiga distinguir a profissão de jornalista, da profissão de escritor, porque acho que as confundiu um pouco no livro. O jornalismo ressente-se muito mais no livro do que a dita literatura que o romance prometia.

www.oamador.com

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Pousada S. Miguel

Serra de São Miguel
7470-999 - Sousel
Tel. (+351) 268 550 050
Fax. (+351) 268 551 155
Em. recepcao.smiguel@pousadas.pt

Pousada de Portugal (Natureza)

Classificação

****

Preço

€€€

90 a 120 Euros

Nº Quartos

32

CaracteristicasAr condicionado, TvCabo, Mini-Bar, Roupões, Varanda, Envolvente paisagística, Piscina, Salas lazer, Restaurante, Bar, Estacionamento
ExtrasPasseios de bicicleta TT, Canoagem, Campo de tiro, Passeios de jipe, Caça (javali, tordo, rola, coelho, lebre e perdiz), Espectáculos de falcoaria, Cavalos, Passeios pedestres, Tiro ao arco

Fundada pelo Infante Contestável Dom Nuno Álvares Pereira, a vila de Sousel está cercada de terras onde abundam espécies de grande interesse cinegético. A poucos km's da vila, no cimo da Colina de São Miguel, está instalada a Pousada de Sousel, a primeira unidade hoteleira de Turismo Cinegético (Caça) do país. A Pousada tem também um canil.
Mas, não só os amantes da caça encontram aqui grandes atractivos, uma vez que junto à Pousada se encontra a Praça de Touros mais antiga do país e, muito perto também (a 25 km), a Barragem do Maranhão onde se pode pescar e practicar diversos desportos náuticos.
Esta perfeita harmonia com a paisagem circundante fazem da Pousada de Sousel, o lugar ideal para todos os que partilham da opinião de que, é na beleza da paisagem, na simpatia das gentes, na gastronomia tradicional e na qualidade do vinho que se encontra a verdadeira essência de uma região.

Localização:

Padrão das Pousadas sempre elevado. Paisagem soberba a perder de vista, óptimo sitio para relaxar. A insonorização dos quartos devia ser melhor.

+

Paisagem, Vista da Esplanada, Sossego

-

Insonorização

Outros links:

Tasquinha do Oliveira

Rua Cândido dos Reis 45 A
7000-582 - Évora
Tel. 26 674 48 41
Reserva muito aconselhável

Petisqueira regional

Almocei régiamente aqui. Neste espaço tudo é perfeito à excepção do espaço; se por um lado os 14 lugares disponíveis criam um ambiente selecto e calmo por vezes pode ser mesmo desconfortável. Com excepção deste ponto ser recebido pelo senhor Oliveira é sinónimo de qualidade. Das melhores pataniscas que comi, uma coentrada onde o cação era uma desculpa para se petiscar o pão frito naquele molho espesso, uma encharcada com sementes de romã uma mistura muito agradável. No fim a carteira pode se ressentir mas o corpo e a alma agradecem. Bem hajam, irei voltar.

Comida

A qualidade da matéria prima, a confecção soberba

Preço

€€€€

40 €

Ambiente

Espaço demasiadamente exíguo

Serviço

Simpatia e atenção

Uma homenagem à arte de bem comer. Não é nenhum exagero dizer que é um dos melhores restaurantes de Portugal. Mais de 20 pratos à escolha, entre petiscos frios e quentes. Há ainda peixes, carnes e pratos de caça. Convém ir com algum tempo para poder saborear tantas preciosidades. Não deixe de provar as pataniscas de bacalhau, o cozido com grão à alentejana, ou o arroz de pombo.

Localização:

Nosso menu:

  • Costoletas de cordeiro panadas, Sapateira ao natural, Salada de coelho de escabeche
  • Pataniscas de bacalhau, Omolete de alho porro, Empada de codorniz
  • Queijo de ovelha, Pão regional
  • Cação de coentrada com pão frito
  • Casa de Zagalos (Reserva)
  • Encharcada com romã
  • Cafés, chá e queijadas de Évora
  • Licor de poejos


Crítica:
São 16 lugares bem medidos - no Verão mais uns quantos, que o restaurante sai para o passeio - os desta tasquinha eborense. Manuel Oliveira é da escola de um grande restaurante, o Fialho, de Évora, onde trabalhou um par de anos. Na cozinha, Carolina, sua mulher, revela-se dona de um paladar apurado e muito alentejano.
Como estamos na época da caça, podemos deliciar-nos, na Tasquinha do Oliveira, com uma excelente sopa da panela de pombo, comprovando que não há canja mais delicada; ou com um arroz de tordos; ou uma lebre com feijão e nabos; ou com javali na grelha com puré de maçã; ou com um arroz de lebre; um coelho bravo guisado à caçador.
Mas quem não apreciar caça vai muito bem servido, por exemplo, com uma sopa de garoupa ou de corvina; uma sopa de beldroegas com queijo e ovo; o cabrito ou borrego assados no forno; os pezinhos de porco de coentrada; as migas com carne de porco; a sopa de tomate com ovo e linguiça; o cozido de grão.

Isto, caso não se tenha deixado perder pelas entradas, uma infinidade delas, todas muito boas: grão com bacalhau, orelha de porco de coentrada, favas com linguiça, feijão frade com bacalhau, cabeça de xara, paia de toucinho de Estremoz, queijo de ovelha meia cura, pataniscas de bacalhau, gambas panadas, "souflé" de espinafres com gambas, ovos de codorniz com paio... Chega?

Doçaria alentejana, conventual, como deve ser (encharcada, sericaia, pão de rala, queijadinhas). Vinhos também sobretudo alentejanos. Se quiser ir à Tasquinha do Oliveira não deixe de fazer prévia marcação de mesa.

por Público
Outros links:

Wednesday 22 October 2008

Destruir depois de ler

Gostei, se bem que por vezes o ritmo decaia demais. Grandes interpretações, Brad Pitt e Clooney excelentes. Mais uma comédia negra, mordaz e critica de mais uma faceta dos bons EUA.

Título original: Burn After Reading
De: Ethan e Joel Coen
Com: George Clooney, Brad Pitt, John Malkovich
Género: Com, Cri
Classificação: M/12

EUA, 2008, Cores, 96 min. (IMDB)

Os irmãos Coen voltam a assinar uma comédia depois do negro e muito premiado "Este País Não é Para Velhos". "Destruir Depois de Ler" foi o filme de abertura na última edição do Festival de Veneza e conta com um elenco de luxo: John Malkovich, Tilda Swinton, Brad Pitt e os habitués na filmografia Coen Frances McDormand e George Clooney.
Malkovich é um ex-agente da CIA que, depois de sair da agência, resolve escrever e compilar as suas memórias, documentando segredos do Governo. Ao mesmo tempo, a mulher (Swinton), que o trai com Harry (Clooney), decide deixá-lo e arrancar-lhe o máximo de dinheiro possível com o divórcio.
Mas o disco das memórias vai parar às mãos de dois pouco escrupulosos empregados de um ginásio, Linda e Chad (McDormand e Pitt), que planeiam explorar ao máximo a sua descoberta, vendendo a informação e conseguindo com isso pagar a almejada cirurgia plástica de Linda. É claro que a sucessão de hilariantes acontecimentos não tarda a começar.in Publico

Crítica:
Ensaio sobre a estupidez

Em "Este País Não É para Velhos", Joel e Ethan Coen afinavam a sua visão desencantada e distanciada da "pequena América" como um país de gente a tentar sobreviver num mundo que parece ter saltado fora dos eixos, e receberam a consagração de crítica, público e Oscares. E o que é que fazem a seguir? Uma comédia quase "screwball" onde põem alguns dos mais populares actores contemporâneos a fazerem de gente a tentar sobreviver num mundo que parece ter saltado fora dos eixos.

A diferença entre um e outro - para lá da recepção crítica bastante negativa da imprensa americana, com Richard Corliss da "Time" a dizer-se perplexo - é essencialmente no tom: da elegia desencantada e da nostalgia de uma inocência de outros tempos de "Este País Não É para Velhos" passou-se à constatação do presente em tom de sorriso amarelo de "Destruir Depois de Ler". Mas a secura quase cruel do cinema dos Coen, o seu olhar quase clínico sobre as coisas, mantém-se intacta. Claro que os críticos americanos não gostaram do tom de sátira absurdista e selvagem com que os irmãos dissecam esse valor universal que é a estupidez. Porque "Destruir Depois de Ler" é um filme sobre a estupidez, sobre o modo como ela parece estar enraizada numa certa sociedade americana demasiado ocupada com os "sinais exteriores de riqueza" para ligar ao que interessa. E é um filme quase derrotista, na sua sugestão de que o altruísmo e a inocência são valores condenados ao sacrifício, sem lugar neste "novo mundo" onde se persegue tudo aquilo que não interessa.

Há um analista da CIA ( John Malkovich) que se prefere despedir a ser atirado para a prateleira, e que decide escrever as suas memórias reveladoras para fazer dinheiro, enquanto a esposa pediatra (Tilda Swinton) começa a pensar num divórcio para ficar com o dinheiro do casal e eventualmente amancebar-se com o amante, um "marshall" das Finanças (George Clooney) que é casado com uma autora de livros infantis mas dorme por fora com toda a saia que lhe apareça à frente. Uma cópia das memórias reveladoras cai por puro acaso nas mãos de um instrutor de ginásio burro como um calhau (Brad Pitt) e da sua sub-gerente (Frances McDormand) desesperada pelo dinheiro que lhe permita fazer a plástica do seu sonho, uma conversa telefónica origina um malentendido, o analista acha que estão a querer chantageá-lo e é uma questão de tempo até a comédia de enganos revelar a falta de comunicação, o egoísmo e a irresponsabilidade desta gente que quer tão desesperadamente perseguir os seus sonhos que não é capaz de parar para pensar no que está a fazer.

Não estamos assim tão longe de "Fargo" como isso - mas onde aquele era um filme onde a comédia negra coloria a sua estrutura policia e onde havia pelo meio gente sensata, "Destruir Depois de Ler" assume-se mais classicamente como uma comédia onde ninguém se salva, e os Coen não têm, já o sabemos, jeito por aí além para a comédia (apesar do semi-sucesso de "Crueldade Intolerável"). O seu cinema é demasiado clínico e austero para que a graça seja genuína (embora, a espaços, o seja, como na personagem de calhau com olhos que Brad Pitt interpreta com infinita elegância) ou não termine num esgar de cinismo - e, a esse respeito, o espantoso final, tão anticlimáctico como o era o de "Este País Não É para Velhos" mas muito mais revelador da estupidez como constante universal e perfeitamente alinhado com a entomologia intrigada do grosso do filme, trai impecavelmente essa atitude de distanciamento quase superior de quem não se quer misturar.

É, se calhar, por isso muito mais prático olhar para "Destruir Depois de Ler", mais do que uma comédia, como uma sátira fria e desencantada a uma América cada vez mais virada para dentro de si mesma e cada vez mais crédula, acreditando em fachadas e superfícies que nada revelam da verdade mas se limitam a serem projecções de desejos. Ou como um filme infinitamente triste sobre gente solitária e confusa que se procura a si mesma em todos os lugares errados. Ou como uma indirecta a uma administração de saída que ajudou em demasia a tudo o que ficou acima. Ou como um olhar surreal sobre um mundo que já não é como era dantes. O que o torna, claro, num filme nitidamente dos seus autores e que não destoa em nada da obra anterior. Que não é um clássico que vá ficar como um dos seus melhores filmes, mas que é melhor do que a maior parte da crítica dá a entender.


Jorge Mourinha

Saturday 18 October 2008

Cabaret

Eu não sou fã de musicais. Aliás, todas aquelas cenas lamechas de cantoria despropositada nas mais diversas e absurdas situações da vida, como se eu desatasse a cantar ansiosamente enquanto folheio uma revista na sala de espera de um dentista, irritam-me profundamente. Não me entendam mal, eu gosto muito de música e de canções, mas onde façam sentido, e para mim, oferecer um ananás a alguém não é motivo para cantar. Dito isto não é difícil adivinhar que a maioria do espectáculo foi um suplício para mim, agravado pela fraca qualidade de algumas vozes. Do que é que eu gostei então? Gostei dos números de Cabaret própriamente ditos e do mestre de cerimónias, Henrique Feist que a meu ver é o melhor em palco, “Money makes the world go arround” um grande momento. A actuação de “Sally Bowls” não me convenceu muito, tiques a mais, uma grande voz mas não me faz esquecer a Liza. No global, apesar do meu ódio visceral a musicais, até gostei, e por isso, devia ser mesmo bom.


A versão cinematográfica, de 1972, ficou para a história com a inesquecível voz de Liza Minnelli a dar vida à cantora Sally Bowles. O musical “Cabaret”, com encenação de Diogo Infante, estreou-se no dia 10 de Setembro no Teatro Maria Matos, em Lisboa. A protagonista foi escolhida num programa da RTP. Ana Lúcia Palminha foi a vencedora do programa “À Procura de Sally”, do canal público, escolhida para interpretar o papel da protagonista.


Sally Bowles é uma jovem cantora inglesa que trabalha no Kit Kat Klub, em Berlim, e por quem um escritor americano (Cliff Bradshaw) se vai apaixonar. “Cabaret” relata a vivência na capital alemã, na década de 30, num tempo de contradições e ascensão nazi. Ambiente com o qual o amor de Sally e Cliff terá de conviver e sobreviver.


Links

Wikipédia

Espaço Açores

Largo da Boa Hora Loja 19 Mercado da Ajuda
1300-100 - Lisboa
Tel. 213640881
Reserva aconselhável. Encerrado 3ª feira

Regional Açoreano

Comida de eleição. A sabedoria insular à nossa mesa, bem servida, confeccionada e promovida, Alfredo Alves homem de convicções não se coíbe em enaltecer as suas amadas ilhas. Aqui o cliente tem sempre razão desde que concorde com a superioridade da mesa açoreana, o que até não é difícil tal é a qualidade. A Alcatra prato bem condimentado e forte é deliciosa, o pudin de vinagre uma surpresa excelente. Somente o vinho das ilhas não me convence. Delicioso.

Comida

Excelente a todos os níveis

Preço

€€

22 Euros

Ambiente

Requintado, mas a localização não é a melhor

Serviço

O serviço dos responsáveis é excelente, dos restantes empregados mais fraco

Trazer um pouco dos Açores e da sua gastronomia para Lisboa é a proposta deste espaço situado na Ajuda. Com uma agradável vista panorâmica e tirando partido dos materiais da região de origem, o Espaço Açores proporciona uma viagem pelos diversos sabores das ilhas açorianas.
Especialidades: Entradas: Queijo com pimenta da terra; Queijo do Pico - Corvo - Stª. Marª. - Flores; Lapas na grelha; Morcela c/ laranja; Morcela c/ ananáz; Favas d´unha; Massa sovada c/manteiga; Bolo de milho ; Pé de torresmos; Mólhos de Stª. Maria; Garapaus; Búzios; Pão de Lapas; Erva patinha.Peixes:Sopa de peixe; Véja; Lírio na grelha; Bacalhau picaroto; Arroz de lapas; Lulas guisadas/fritas; Filetes de abrotea ou peixe porco; Polvo à Regional; Moreia frita; Rocáz; Sadada de rocáz; Boca negra; Bifes de Atum; Atum assado ;Atum na grelha; Encharéu, Abrótea; Garopinhas; Bicuda; Caldo de Peixe; Cavala recheada; Chicharrinhos; Serra; Alcatra de peixe; Anchova; Sargo; Besugo;Mero. Carne: Alheira de Stª. Maria; Coelho Bravo; Espetada Açoriana; Alcatra à Terceirence; Mólha de carne Torresmos de molho de figado; Cozido das Furnas; Bife Micaelense, Linguiça com inhames; Torresmos; Feijão assado, Sopas d´O Sr Espirito Santo (no 1º fim de semana do mês); Caldo de nabos.Sobremesas:Pudim de maracujá; Pudim de mel; Pudim bolacha; Barriga de Freira; Charlot de maçã; Doce de vinagre; Batatada; Queijo com doce de capucho; Fofas ou Felhoses de forno; Pasteis de maçã; Tigelada de S. Miguel; Arroz doce; Araçais; Mousse de araçais; Pudim de coco; Pudim mulato; Fruta do dia; Pudim de feijão; Bolo de caramelo; Bolo de frutas; Pudim de abóbora; Pudim de chá; Pudim ananás; Queimada d`ovos; Espera maridos; Souflé de ameixa; Queijos das várias Ilhas

Localização:

Nosso menu:

  • Alcatra miguelense
  • Atum grelhado com batata doce
  • Doce de vinagre
  • Pudim de abóbora


Crítica:
Uma ilha na cidade.
Ana Marta Ramos

A casa não é propriamente nova, mas a novidade é de peso. Alfredo Alves deixou a cave que ocupou, durante cerca de oito anos, na Rua Frei Carlos, sob o nome pouco elucidativo de Bambino d’Oro, e instalou-se numa sala soalheira e com vista sobre o Tejo, no novo Mercado da Ajuda, com um nome que diz tudo: Espaço Açores.


Enquanto o Homem sonha

Ainda antes do Bambino d’Oro, já Alfredo emprestara o seu nome e a sua arte a um restaurante faialense que chegou a figurar entre os 30 melhores do país. Felizmente para nós, continentais, que veio para ficar. Sobretudo agora, que conseguiu concretizar o sonho de erguer, de raiz, um templo verdadeiramente à altura da gastronomia genuinamente açoriana.

O Espaço Açores é mais do que um restaurante, convém dizê-lo. Para já, abre portas todos os dias, do meio-dia à meia-noite, excepto às terças-feiras, e serve lanches com o mesmo rigor regional aplicado nas refeições principais.

A Massa Sovada e Bolo Lêvedo são sempre fresquinhos; as Queijadas de Nata do Faial fazem crescer água na boca só de olhar para elas; a Linguiça é servida em pratinhos ou a rechear uma deliciosa Bola; em pratinhos também há Lapas e Polvo; e as propostas de sanduíches variam entre o Atum (do fresco, assado no forno), a Alcatra ou o Torresmo (à maneira dos Açores, de carne limpa). Para beber, as opções são várias, mas não resistimos a destacar o refrigerante Kima, de Maracujá, e os aromáticos chás de S. Miguel. O serviço é particularmente cuidado, o que faz com que estas iguarias nos saibam duplamente bem.

Esta é, de facto, uma das grandes novidades introduzidas com a mudança de localização. Mas é apenas uma delas.


Mais Açores

Foi João Redondo, um arquitecto micaelense residente em Lisboa, que deu corpo à “visão” de Alfredo Alves, e o resultado é 100% açoriano. A madeira de criptoméria e o basalto, vindos das ilhas, cobrem o chão e as paredes.

As cores de eleição, o azul e o vermelho, remetem para as casas típicas de beira-mar, chamadas de adegas. E a inclinação subtil das traves de madeira confere à sala uma atmosfera náutica, reforçada pelo efeito do tecto da entrada, que forma uma quilha.

Depois, temos a vista: as vidraças acompanham a sala ao longo de todo o comprimento, pelo que podemos admirar o casario a descer até ao Tejo, a ponte 25 de Abril e até a margem sul. Isto, mesmo com os estores corridos, graças aos engenhosos materiais que cortam a luminosidade excessiva sem nos privarem da visibilidade.

A elegante garrafeira exposta na parede de fundo foi reforçada: há novos vinhos do Douro, por exemplo, e são privilegiados os contactos directos com os produtores. Mas, pelo menos por uma vez, para a experiência ser totalmente açoriana, aconselhamos um Lajido do Pico, para aperitivo, um Frei Gigante Branco para acompanhar os pratos de peixe, um Currral Atlantis tinto a condizer com as especialidades de carne, e um Licor de Maracujá de S. Miguel para rematar em beleza o repasto.


Viagem pelo paladar

E como nem só de vinho vive o Homem, vamos ao que interessa. A ementa mantém a riqueza, a variedade e a autenticidade dos ingredientes que já conhecíamos do Bambino d’Oro. Mas acrescenta-lhes, agora, os peixes grelhados e as sugestões “de autor”: uma sopa, um prato de peixe e outro de carne, sempre com base nos produtos que chegam, diariamente, das ilhas açorianas, mas com toque muito pessoal de Alfredo Alves.

O melhor é consultar a imensidão de pratos propostos no site do restaurante, em www.espacoacores.com. Ao domingo serve-se Cozido das Furnas e no primeiro fim-de-semana de cada mês há Sopas do Sr. Espírito Santo.

Mas, atenção: a disponibilidade dos pratos depende directamente da sazonalidade dos ingredientes. Como deveria ser sempre, quer-nos parecer. Não há nada como telefonar previamente para saber o que o espera.

As quintas-feiras são dias de buffet: ao almoço e ao jantar, os comensais despendem uma quantia fixa por pessoa e desfrutam de um verdadeiro banquete ilhéu. No dia em que visitámos o Espaço Açores, o menu incluía, como entradas, Linguiça com Inhame, Favas de Unha, Batata com Pimenta da Terra, Morcela com Laranja e Tortas de Erva Patinha.

Quanto a estas últimas, passamos a explicar. “Tortas” são omeletes. Esta metade da explicação é simples. Agora, a “Erva Patinha” é uma alga que nasce à beira-mar, quando o tempo está mau e o mar agitado, dura três ou quatro dias e morre ao primeiro contacto com o sol, pelo que tem que ser colhida com um grande sentido de oportunidade!


De pratos principais pudemos provar os Bifes de Atum com Batata Doce, a Sopa de Peixe da Graciosa, o Polvo Guisado, os Torresmos da Terceira, a Alcatra e o Feijão Assado. Aqui impõe-se mais uma pausa para um breve esclarecimento.

Este “Feijão Assado” consiste numa feijoada com entremeada e linguiça, levemente guisada com melaço e levada ao forno. Um pecado mortal, certamente! O tempero varia entre ilhas (pode levar açúcar ou canela) mas a receita-base foi levada para a América pelos baleeiros, e imortalizada no grande ecrã por Trinitá, a personagem dos westerns desempenhada por Terence Hill, que tinha por costume aquecer feijões para saciar a fome.

Para rematar, foi tão difícil escolher a sobremesa que tivemos que provar um bocadinho de cada: Mousse de Maracujá, Tigelada de S. Miguel, Doce de Vinagre, Ovos Pardos, Pudim de Mel e Pudim de Chá.

Foi ao som de música tradicional dos Açores que nos despedimos, não sem antes fazer umas comprinhas. Isto porque o Espaço Açores também vende alguns dos produtos confeccionados na casa, como a Massa Sovada e os Bolos Lêvedos, e muitas das iguarias açorianas difíceis de encontrar cá, como as conservas e os licores.

Alfredo Alves continua a desempenhar com apurado afinco a missão de embaixador das coisas boas do seu arquipélago natal. Bem haja!


por Lifecooler

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Wednesday 15 October 2008

Cavalia

Definitivamente não faço parte da legião de fãs deste espectáculo. Sim, os animais são soberbos. Sim, a encenação está bem construída e o fluir do espectáculo é envolvente. Sim, os artistas têm uma relação humanizada com os animais a um nível pouco visto. O espectáculo é de um nível técnico inexcedível, penso que não. Posso não ser conhecedor da arte, mas do toureio à alta escola equestre nacional, o que não nos falta são artistas nesta área. Honestamente, achei lindo, mas fraquito. Já a máquina financeira associada, desde os preços dos bilhetes absurdamente caros, pacotes para elite, estacionamentos a 5€, todo o marketing e merchandising, nada disto é fraquito, aliás rapidamente temos consciência que pode existir arte e amor, mas o essencial é o negócio. Para ajudar à festa o dia em assisti ao show foi pródigo em peripécias e acidentes: equipamentos (ecran lateral) que não funcionava, artistas às escuras porque as tochas que seguravam apagaram-se, acrobacias falhadas, durante a cena “Bungee e Cavaleiros” o elemento feminino caiu literalmente de quase 3 metros quando lhe escapou a mão e finalmente um cavalo caiu ao tropeçar num ressalto de madeira do palco devido a má condução do acrobata durante um galope vertiginoso. Aconselho a ver o espectáculo pela nobreza dos animais, mas acho que não vale o preço.


A magia de Cavalia, uma espectacular odisseia equestre.


Depois de mais de 1100 espectáculos por todos o mundo, o “ballet mágico entre o homem e o cavalo” chega ao Passeio Marítimo de Algés, no dia 2 de Outubro. Um espectáculo imaginado por um dos fundadores do Cirque du Soleil, que já encantou mais de dois milhões de espectadores em todo o mundo. Normand Latourelle, presidente e director artístico do Cavalia, está satisfeito e orgulhoso por trazer o seu espectáculo para Portugal pela primeira vez. Ele está convencido que o público português verá um espectáculo realizado por uma equipa de artistas e cavalos excepcionais, apresentados de uma forma que nunca antes viram. O nosso espectáculo é uma experiência inesquecível e eu estou convencido que o espectador irá invariavelmente ser tocado por tanta beleza e poesia.


Cavalia, um espectáculo diferente de todos os criados até hoje, é uma junção de técnicas multimédia, com artes equestres e performativas. Os espectadores serão transportados para um cenário virtual fantástico para testemunhar um sonho de liberdade, cumplicidade e harmonia que explora a relação histórica entre humanos e cavalos. Desenhada especialmente para Cavalia, a tenda “Big Top” encerra um palco de 49 metros onde actuarão 37 talentosos artistas e 60 cavalos. Um espaço onde a agilidade, o poder e a graça dos cavalos é demonstrada em toda a sua beleza e em total liberdade.


Cavalia, chega agora ao Passeio Marítimo de Algés - Oeiras, na sequência de uma tournée mundial, iniciada em 2003, que já levou este espectáculo a importantes cidades como Amesterdão, Berlim, Bruxelas, Dallas, Las Vegas, Los Angeles, Madrid, Montreal, Washington, entre outras. Cavalia é uma criação de Normand Latourelle, um dos fundadores do Cirque du Soleil, aclamado pelas suas produções arrojadas e inovadores. O espectáculo é dirigido por Erick Villeneuve e a direcção equestre está a cargo de Frederic Pignon e Magali Delgado. Todas as músicas são tocadas ao vivo e são uma composição de Michel Cusson, propositadamente para o Cavalia.


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Sunday 5 October 2008

Provença-Itália-Dolomites-Alpes





O nosso grande passeio anual, desta feita pelo sul de de França, Verona Veneza e Dolomites na Itália e Garmisch na Baviera. Ainda tempo para um salto a Bruxelas.

Dia 1 (12-09-2008) 576 km(s), 46 litro(s), 111 km/h
Tordesillas(ES) . Geria(ES)

Estamos de novo de partida para mais uma viagem pela Europa. Desta vez o plano está bem delineado, atravessar Espanha pelo norte, sul de França, norte de Itália até Veneza, rumar a norte através dos Alpes até à Baviera, dar um salto a Bruxelas e retornar via a rota de St. Jean de Luz, vinte e três dias de pura diversão. A primeira etapa é a clássica rota de Salamanca; Saída durante a tarde de Lisboa, fronteira em Vilar Formoso e dormida já perto de Valladolid em hotel de estrada. Com a excepção dos incêndios perto de Castelo Branco, que nos proporcionaram observar os Canadairs dos bombeiros em plena acção, a viagem foi sossegada. Jantámos as clássicas empadas já perto de Salamanca numa bomba de gasolina em companhia de outros carros. Perto das 00:00 (hora Espanhola) chegámos ao, já nosso conhecido, Hotel La Colina, pequeno hotel de qualidade sofrível mas extremamente bem situado para esta etapa. Ao longe sobre Valladolid as festas da cidade despejavam fogo de artificio para o céu nocturno (eu sei que somos importantes mas também não era preciso tanto). Recolhemos imediatamente às boxes, amanhã vai ser um dia muito duro.
   La Colina 


Dia 2 (13-09-2008) 942 km(s), 69 litro(s), 107.4 km/h
Laqc(FR) . A64(FR) . Mèze(FR)

O dia amanheceu limpo mas muito frio, como parece ser normal por estas bandas. Após o pequeno-almoço tempo para o primeiro desaguisado da viagem: parece ser normal neste hotel indicar por telefone uma tarifa e depois cobrarem outra, da primeira vez abdicámos do pequeno-almoço, desta vez não … após alguma pressão lá pagámos o inicialmente combinado e ala que se faz tarde. O dia de hoje é no mínimo ambicioso, de Valladolid até ao Mèze no sul de França. A monotonia voltou a instalar-se na nossa vida à medida que nos dirigíamos para França. Chegados ao País Basco a chuva apareceu e não mais nos largou até ao fim do dia. Pelas bandas de Pau parámos um pouco na casa do parque dos Midi-Pyrenees, em plena Autoroute, um local com muita informação, especialidades e souveniers de bom nível, vale a pena descansar aqui um pouco. Aproveitei para comprar um guia de percursos à volta de Gavarnie para uma próxima oportunidade. Um pouco mais à frente a melhor vista do dia, Carcassone brilhava iluminada por um fugaz raio de sol. Por volta das 18:00 chegámos ao nosso hotel, “la Pyramide”, na localidade de Mèze nas margens do lago de Thau a meio caminho entre Agde e Sète. O hotel é novo, bem equipado, plasma e tudo, e encontra-se numa localização excelente, a poucos minutos a pé do centro mesmo junto à água. Fomos recebidos por um adolescente, filho dos donos talvez. Incrivelmente para alguém da sua idade o nível de inglês era deplorável, após o switch necessário para Francês lá nos deu os códigos de entrada e nos mostrou o quarto. Este hotel entrou directamente para o top 5 dos hotéis em França, vamos lá ver se com o tempo não se deteriora. Fomos até ao centro da terra em busca de alimento para o corpo e exercício para as pernas. A chuva parou e o sol brilhava já baixo no horizonte, ao longe o monte de Sète e ali ao lado um gajo divertia-se no lago a fazer Kitesurf. O centro da terra irradia do seu pequeno porto, rectangular, cheio de barcos coloridos, rodeado por todos os lados de restaurantes. Admito que 90% da oferta de restauração da terra se situa neste semi-circulo. A oferta é muita mas a variedade escasseia, porta sim, porta sim sempre um pouco do mesmo … coquillage, o marisco do lago (as ostras, amêijoas etc…) parece estar na moda, por quase todo o lado cartazes apregoavam “Ostras frescas, produção caseira” (na banheira imagino eu), pobres bivalves arrancados na sua juventude às suas famílias de adopção e assim expostos num qualquer alguidar na praça publica. Após algumas voltas ao porto lá nos decidimos por um restaurante com esplanada coberta, daquelas com aquecimento a gás, e uma decoração pseudo marítima, pseudo típica. Como neste restaurante os pobres bivalves também tinham sido acarinhados desde pequeninos pelos nossos anfitriões não quis deixar escapar a oportunidade de degustar tal iguaria; desta feita na chapa, acompanhado de diversos molhos e de um tinto razoável. As ostras grelhadas com molho Roquefort são realmente boas, o resto come-se, mas não muito que a banheira é pequena e não produz muita coquillage.
   Aire Servis 
   Maison Haute Garrone 
   La Maison du Pecheur 
   Hotel Pyramide 


Dia 3 (14-09-2008) 280 km(s), 19 litro(s), 98 km/h
Montpelier(FR) . Vinon s Verdon(FR) . Moustier S Marie(FR)

Um nevoeiro luminoso, daqueles que anunciam o sol a qualquer momento, brindou-nos nesta manhã. Após algumas horas na Autoroute do Mediterrâneo chegámos a Vinan sur Verdon, mesmo a tempo do almoço. Esta pequena terra fica nas margens do Verdon o rio cuja fabulosa garganta iremos visitar mais a montante, na praça central sombreada por Plátanos imensos limpava-se os restos da feira de domingo. Após uma vista de olhos pelas esplanadas, já cheias de convivas, optámos por um restô simpático onde comi a especialidade local, um belo bife tártaro. Findo o almoço avançámos até ao nosso destino, Moustiers St Marie, onde o nosso hotel nos aguardava. Moustiers St Marie é uma pequena aldeia da Provença, ruas empedradas, portadas azuis celeste, fontes frescas, esta tem o atractivo adicional de ficar num pequeno canyon e ser atravessada por um regato que desce do alto da montanha escavando um profundo fosso mesmo no centro da vila. Sempre presente de todos os ângulos, “La Chapelle de notre Dame de Beauvoir”, observa a aldeia bem no alto da falésia. Outra curiosidade que salta à vista é uma estrela, de ouro vim a saber, que pende de uma corrente de ferro estendida de ambos os lados da falésia e que parece pairar sobre a vila. Reza a lenda que um cavaleiro da terra aprisionado nas cruzadas prometeu a sua construção caso fosse salvo. O nosso hotel, la Bonne Auberge, é muito simpático, fica à entrada da vila, apesar de ser de construção mais recente dilui-se perfeitamente na paisagem urbana, tem restaurante e piscina. Infelizmente não chegámos a usufruir da piscina mas pareceu-me muito apelativa. O nosso quarto era muito simples mas espaçoso, a casa de banho está preparada para deficientes, com duche sem resguardo para acesso de cadeiras de rodas, imagino que deva ser uma bênção para muita gente mas a nós causou-nos uma sensação de desconforto imediata, outra curiosidade é a sanita, é tão elevada que dificilmente se chega com os pés ao chão, não me considero pequeno e no entanto tinha de ter 2m para me sentir confortável ali. Enfim, curiosidades com as quais podemos viver bem. A tarde já ia a meio quando saímos para passear um pouco. A terra estava cheia de visitantes de Domingo mas mesmo assim era agradável. No centro de informações obtivemos um mapa da região do Verdon e algumas dicas, decidimos seguir a sugestão de caminhar até à igreja sobranceira e daí rodear a falésia até ao extremo da vila atravessando-a depois para completar o círculo. Assim fizemos, ao todo não levámos mais de 1 hora e valeu bem a pena. De regresso às ruelas de Moustiers demos com uma loja de sumos de produção biológica, não resisti e aventurei-me num belo copo de cerveja artesanal, era espessa, sabor diferente, mas depois da nossa caminhada caiu divinalmente. Jantámos no hotel, simples mas saboroso, tudo à nossa volta gritava meia pensão. Já esticámos as pernas, temos indicações de percursos, a previsão de tempo é excelente … estou ansioso por amanhã.
   le San Vero 
   Notre Dame Beauvoir 
   la Bonne Auberge 
   la Bonne Auberge 


Dia 4 (15-09-2008) 54 km(s), 4 litro(s), 93.7 km/h
Gorges du Verdon(FR) . Aguines(FR) . Moustier S Marie(FR)

Bem cedo de manhã, após o pequeno-almoço, fomos à loja do outro lado da rua comprar pão para o almoço. Os donos são Portugueses emigrados já há alguns anos, depois da troca de cumprimentos da praxe atestámos as mochilas e partimos para as “Gorges du Verdon”. O dia estava magnificamente límpido. Alguns kms à saída da vila parámos um pouco nas margens do lago de St.Croix a contemplar o magnífico espelho de água que a manhã sem vento proporcionava. Este lago artificial é alimentado pelo rio Verdon que aqui chega após percorrer o segundo canyon mais extenso e profundo do mundo (logo a seguir ao Grand Canyon no Colorado). É esta imensa falha no maciço calcário que chega a ter 700m de profundidade, uma dezena de metros de largura entre paredes em alguns pontos e que se estende por mais de 20 km que nos propomos explorar percorrendo trilhos nas margens do Verdon, nas profundezas desta garganta. O rio Verdon, como o próprio nome indica, é de um verde-esmeralda luminoso e ao longo de milénios escavou a pedra calcária resultando na bela paisagem de paredes verticais que mergulham centenas de metros em direcção às sombras qual cicatriz profunda nas montanhas cobertas de vegetação. Duas estradas rodeiam ambos os lados da garganta a uma altitude média de 500m e estão pejadas de miradores excelentes, somente percorrer toda a extensão destas vias, mais de 80km no total, deve ser um dia bem passado. Hoje optámos pelo trilho do Imbut acedido pelo lado sul. Este caminho começa junto ao Hôtel des Cavaliers, desce a encosta rapidamente até ao leito do rio acompanhando-o em direcção a jusante ao longo de mais de 6km até ao ponto mais estreito da falésia onde o rio desaparece sobre um caos de pedra, o Imbut, neste ponto a distância entre as paredes é pouco mais do que uma dezena de metros a uma profundidade de mais de 400m até à estrada nacional. Deste belo dia de caminhada lembro-me de um desvio para ver uma gruta que resultou num caminho errado e que rapidamente nos deixou num parapeito estreito e sem saída alguns metros acima do caminho correcto, foi uma situação que necessitou de algum sangue frio pois até inverter o sentido da marcha era difícil tal era a largura do local; de um vidoeiro com uma idade estimada em 3000 anos tenazmente agarrado à rocha num dos locais mais belos de todo o percurso; lembro-me do mini canyon de pedra branca, o Styx, e de como era fotogénico o Verdon a serpentear por ele; do caminho talhado na falésia poucos metros acima das águas e dos pequenos “cairs”, pequenos montes de seixos empilhados, que toda a gente fazia ao longo do caminho e especialmente na praia do “Imbut”, local priviligiado para o repasto e descanso. Uma vez no Imbut o caminho mais directo para retornar é subir directamente a encosta através do Sentier Vidal, caminho de emergência aberto para socorro. Este foi mais um ponto alto do dia, os 40 minutos que levou a superar o desnível era recheado de zonas super íngremes e expostas, culminando em degraus talhados auxiliados por cabos de aço (nunca o tentem a descer), este pedaço apesar de algo duro foi a cereja no topo bolo para um dia espectacular. No regresso ainda parámos num mirador junto Aguines, nada digno de nota não fosse o facto de todos os carros e motas ali estacionados terem todos matriculas de praticamente todos os cantos da Europa, Bósnia Herzegovina incluída, mas nenhum Francês, decididamente um cantinho turístico. Para acabar bem o dia fomos comer um geladinho a Aguines, tirei uma bela chapa dum bichano local, de volta a Moustiers e após um banho bem merecido fomos jantar novamente ao hotel. À noite fui tentar fotografar a vila à noite e fazer o reconhecimento de restaurantes para o dia seguinte, FLOP em ambas as iniciativas. Hoje o dia foi excelente, um pouco puxado para quem não dava uso às botas há algum tempo.
   l'Imbut 
   la Bonne Auberge 
   la Bonne Auberge 


Dia 5 (16-09-2008) 39 km(s), 4 litro(s), 90.2 km/h
Moustier S Marie(FR) . Palude s Verdon(FR)

Hoje é dia de mudança, vamos nos despedir de Moustiers e mudar a nossa base para Palud-sur-Verdon para as próximas duas noites. De caminho enfrentamos o mítico trilho da região, o Sentier Martel. Seguindo o percurso feito pelo explorador Martel, este caminho parte do Chalet de la Maline, na vertente oposta ao de ontem, e segue para montante ao longo de 20km até atingir o local de Pont-Sublime. No caminho é preciso enfrentar alguns desníveis consideráveis, as terríveis escadas da brecha Imbert (mais de 250 degraus íngremes) e alguns túneis, um deles com 800 metros de comprimento. No total o caminho percorre-se em cerca de 7h, pode-se realizar em ambos os sentidos, sendo necessário retornar pelo mesmo sítio ou de transportes pela estrada nacional. Ainda não tínhamos a certeza se nos apetecia realizar todo o percurso, o que realmente não se veio a verificar, no total percorremos metade da distância, almoçamos no alto do miradouro da brecha Imbert, 300 metros acima do rio, e seguindo conselho de outros que por lá andavam limitámo-nos a apreciar as infames escadas do topo e voltámos para trás poupando uma longa caminhada por floresta cerrada muito monótona segundo nos indicaram. Ao contrário do dia anterior aqui a garganta apesar de igualmente profunda é muito mais larga reduzindo o efeito claustrofóbico, no entanto o caminho está em média mais afastado do rio o que diminui o seu interesse, no final acabei por apreciar mais o caminho do dia anterior. Terminado o exercício do dia fomos para Palud em busca do nosso novo alojamento. Auberge dês Cretes, já à saída da terra no início da famosa route dês Cretes, uma estrada de sentido único que percorre 23 kms da falésia passando por uma dezena de excelentes miradores. O alojamento prometia, varanda, wc renovado um enorme plasma na parede. Depois de um merecido banho fomos dar uma volta pela terra, uma praça engraçada com uma fonte e um cão preguiçoso, duas ou três esplanadas vazias, um chateaux reconstruído n vezes, local aprazível mas com falta de personalidade. O jantar, no restaurante do alojamento, foi de reis. Surpreende-me sempre este fenómeno de nos Logis de France mais pacatos se dar de caras com cozinhas sublimes, este foi um desses casos, os nossos pratos estavam divinais, a entrada com vieiras, o prato de pato estufado e os crepes de sobremesa, tudo com um bom pichet de vinho local, sublime. Infelizmente no melhor pano cai a nódoa, se da cozinha nada há a apontar já dos quartos não é bem assim, uma vez mais no quarto a verdadeira idade do quarto, aliada a alguma incúria e desleixo fizeram-se sentir resultando numa noite que só posso descrever de infernal. As paredes e móveis estão velhos e delapidados, os armários cheiram a mofo e as almofadas lá guardadas estão negras de bafio, a cama de molas desconfortável a um ponto indescritível, lençóis que não foram trocados desde o último hospede, conseguíamos ouvir o sistema de canalização de todo o edifício e até o pasma quando desligado emitia uma luz de presença suficientemente forte para banhar todo o quarto com uma irritante aura azul. Devo ter dormido umas três horas nessa noite.
   Sentier Martel 
   Auberge des Cretes 
   Auberge des Cretes 


Dia 6 (17-09-2008) 325 km(s), 20 litro(s), 83.4 km/h
Palude s Verdon(FR) . Rougon(FR) . Imperia(IT) . Albissola Marina(IT)

Para grandes males grandes remédios. Era impossível aguentar outra noite assim, por isso uma mudança de alojamento impunha-se. Sem mais demora, preparámos as malas e depois do pequeno-almoço fizemo-nos à estrada, onde iríamos ficar nessa noite era uma incógnita no entanto não queríamos desperdiçar mais um belo dia de sol. Primeiro demos a volta à falésia pela route des Crêtes, é de facto um caminho espectacular, os miradores de Trescaire e de L’Escalès são os mais assombrosos. O dia estava lindo com grande visibilidade, à excepção de um ou outro turista que religiosamente percorria esta “via sacra” de mirantes, não se via ninguém e por companhia só tínhamos o som do vento e os abutres que vagarosamente ascendiam nas térmicas. No fim da estrada, junto ao ponto onde iniciamos ontem o Sentier Martel, decidimos almoçar pela região e partir à tarde em direcção a Itália sem destino definido, mas antes ainda nos faltava ver a parte final do Martel do lado de Pont Sublime e gastámos o resto da manhã nesta tarefa. A vista do mirador é impressionante, sentimo-nos tão pequenos perante a força necessária para cortar a prumo tal fissura. Decidimos explorar os primeiros kms do trilho neste lado e percorrer os famosos túneis, são dois e acompanham a parede da falésia existindo mesmo algumas janelas sobre o rio, o maior tem 1200 metros, não esquecer a lanterna no meio a escuridão é absoluta. Na encosta sobranceira a Pont Sublime fica a velha aldeia de Rougon com o seu castelo em ruínas. Fomos até lá ver as vistas, ainda melhores que do mirador mais abaixo, e comer qualquer coisa. A oferta de almoço é limitada por aqui, mas lá encontrámos a creperie do muro das abelhas onde pudemos apreciar o sol, a vista, e comer uns crepes bem razoáveis. Digna de referência a vista desde a casa de banho, provavelmente uma das melhores do mundo no que toca ao escalão de vistas obtidas de um wc. Partimos por volta das três em direcção à Itália, pelo caminho acompanhámos o desfiladeiro até Castellane, cruzámos os pré alpes mediterrânicos até Vence, terra de perfumes numa bela encosta com o mar a seus pés. Nice brilhava bem lá no fundo, lá perto a auto-estrada. Cruzar Vence foi um tormento, as ruas estreitas e serpenteantes na encosta carregada de trânsito tornaram os poucos kms que nos separavam da auto-route um suplício de dimensões épicas, dei bom uso ao GPS arriscando por caminho secundários, eventualmente fui brindado com o acesso à auto-estrada e pudemos nos concentrar no problema seguinte, decidir onde dormir. Passados 160 kms, milhares de túneis e viadutos (é impressionante a quantidade destes existentes por aqui), e um café com sabor italiano; dei-me por rendido e fomos em busca de alojamento em Albissola Marina, estância de férias junto a Génova. Por esta altura o tempo já tinha virado e foi debaixo de uma chuva miudinha que percorremos a avenida marginal em busca de um poiso que nos fizesse esquecer a noite anterior. Eventualmente tropeçamos no Hotel Garden, moderno, clássico 4 estrelas de executivo com muita arte contemporânea nas paredes, estacionamento e pequeno-almoço e isto tudo a um preço razoável, nem pensámos duas vezes. Saímos para jantar, fomos espreitar as praias, por aqui são todas privadas e não é possível ver o areal ou a água, conceito muito estranho para nós mas que parece ser a norma em Itália, de espaço a espaço encontram-se as “praias públicas” que são lotes de areia encravadas entre as paredes das outras. Para jantar escolhemos uma pequena pizzaria que cumpria todos os requisitos de uma pizzeria em Itália, numa viela sonolenta, toalhas ao xadrez, empregadas matronas e mais do que tudo umas pizzas excelentes em forno de lenha, não esquecer.
   Route des Cretes 
   Point Sublime 
   Crepes 
   Au Caruggiu 
   Hotel Garden 


Dia 7 (18-09-2008) 428 km(s), 30 litro(s), 82.4 km/h
Sirmione(IT) . Gardone Riviera(IT) . Verona(IT)

Uma semana volvida e já estamos por Itália. A manhã foi passada na auto-estrada em direcção a Verona, primeiro uma série infindável de túneis, depois o imenso vale do Pó e finalmente o lago di Garda e numa pequena península na margem sul, Sirmione. Sirmione é agora uma estância balnear neste lago enorme, a zona antiga fica numa pequena ilha, na ponta norte da península, cujo acesso se faz por uma ponte levadiça do castelo, mais para norte o casario dá lugar a um imenso parque onde subsistem termas e hotéis de luxo. As vistas contam-se entre as melhores de Itália, com os Alpes ao longe a surgir das águas, infelizmente, hoje o dia estava enevoado e as margens do lago não eram visíveis. À excepção do castelo e de uma ou outra viela, esta terra já perdeu a sua identidade medieval, os andares inferiores servem fast-food e gelados às hordas de turistas e as casas, embora mantendo a traça original, são de construção moderna, restam as igrejas e o castelo que valem a visita. Comemos umas pizzas rectangulares vendidas na rua e uns gelados gigantescos de limoncello, fiori di nata e chocollata muito bons. Depois da subida à torre para queimar as calorias, voltámos ao carro e guiámos até à terra vizinha de Gardone Riviera onde fomos visitar o jardim botânico. Este local é excelente e proporciona um bocado bem passado entre as plantas e as diversas instalações artísticas. De seguida enfrentámos o trânsito das 18h e percorremos os poucos kms que nos separavam do nosso próximo destino, casa rural Gallo Castaldo nos limites de Verona. À chegada deparámos com uma casa renovada pintada de um ocre forte a poucos metros da circular exterior da cidade, a área parecia deserta, batemos à porta e ninguém atendeu. A coisa não parecia promissora, foi necessário telefonar e lá apareceu o filho do dono muito atrapalhado, o pai estava quase a chegar, deu-nos a entender em Italianês, no entretanto podíamos entrar e escolher o quarto, decidimo-nos pelo mais afastado da estrada nacional, um belo quarto em tons amarelos com soalhos de madeira. Ficámos a saber que a casa disponha de três quartos e uma cozinha que podíamos utilizar e que estávamos por nossa conta pois não havia mais hóspedes. Entretanto chegou o “Gino”, o nosso anfitrião. De uma simpatia extrema, deu-nos as boas vindas, indicou que podíamos consumir de tudo o que existia na cozinha, ofereceu-nos uma garrafa de vinho para brindarmos sozinhos (piscou-me o olho), fez-nos uma visita virtual a Verona em postais, sugeriu-nos um óptimo restaurante no centro para essa noite, fez a reserva por nós e indicou-nos onde podíamos estacionar no centro, facilmente e sem pagar, tudo isto num Italiano alegre, que felizmente, lá vamos entendendo. Munidos de toda esta informação lá fomos para o nosso primeiro encontro com Verona. Parámos o carro onde indicado junto ao rio, cruzámos a imponente ponte do Castelvechio, caminhámos até à Arena romana, com mais de 2000 anos nessa noite era palco de um concerto de música ligeira, depois embrenhámo-nos até à Piazza Erbe e à Piazza de la Signoria, estas duas belas praças separadas por um arco são rodeadas de edifícios históricos e formam o coração da cidade, no topo da Erbe o leão de São Marcos atesta o antigo domínio de Veneza. Estava-mos perto do local combinado para jantar, a Osteria al Duca, situada num edifício medieval tem a fama de ser a casa de Romeu, já eram horas e fomos jantar. A fama desta casa é sinónimo de turistas e de muita gente, mesmo assim, a cozinha é verdadeira o ambiente animado e o serviço terra-a-terra. Comemos a especialidade local Bigoli al Asino, massas de esparguete mais gordas com carne picada de asno, uma delícia, fiquei rendido e só me apetecia comer mais. Por aqui é comum o cavalo e o asno estarem nas ementas o que pode levantar alguns sobrolhos, princípios à parte, posso afiançar que tudo o que provei era delicioso. Para acompanhar um excelente Amarone, vinho local encorpado, e para terminar uma Panacota com chocolate e um Tiramissu divinais. Como não podia deixar de ser em Itália, o café foi excelente também. Foi numa aura de felicidade, só atingível após um repasto destes, que deambulámos mais um pouco pela cidade, a humidade nocturna conferia uma frescura agradável, ameaçava chover mas não nos importámos. Verona promete.
   Castelo 
   Jardin Botanico, Fundacion...  
   Osteria del Duca 
   El Galo Castaldo 


Dia 8 (19-09-2008) 16 km(s), 2 litro(s), 81 km/h
Verona(IT)

O dia começou de um cinzento carregado a ameaçar chuva forte a qualquer momento. Ao sairmos do quarto fomos surpreendidos pela presença de uma Brasileira, imigrada por estas bandas, que tratava da casa e dos pequenos-almoços, foi divertido e deu para dois dedos de conversa em Português. Passámos o dia a calcorrear Verona, em grande parte o circuito já efectuada à noite. Primeiro a ponte Scalligeri, depois, para fugir à chuva iminente, um pouco de arte no Castelvecchio, a fortaleza soturna da família Scalligeri governantes da cidade durante a idade média e que agora alberga uma colecção de arte. Ponto alto, nos baluartes das muralhas, a estátua de Cangrande de aspecto tresloucado com a infame carranca de cão no elmo, a idade média deve ter sido muito divertida por aqui. De seguida fomos até à Arena, ex-libris da cidade. Fico sempre impressionado com o engenho romano, será que alguma construção contemporânea estará por cá daqui a 3000 anos? Como nós centenas de turistas também vieram ver estas pedras e as feias estruturas de metal do concerto da noite anterior. Quem pense que a Arena concentra a maioria das hordas de turistas, desengane-se, as verdadeiras hordas estão na casa da Julieta, é impressionante a atracção exercida por esta habitação em volta de um pateo interior e da sua famosa varanda, nos corações dos visitantes. Digna de nota a compulsão das meninas em escrevinhar mensagens de amor nas paredes da casa, em papelinhos, post-its, peluches, cadeados, eles por sua vez não resistem à foto a apalpar as mamas da estátua da Julieta e claro a sempre presente fotografia de grupo na varanda. Dentro da casa, digno de nota o guarda mais “ganzado” que tenho memória e uma sucessão de compartimentos com alusões à peça. Não sou muito sensível à metáfora do amor puro que supostamente a história representa, nos dias de hoje se uma menina de 12 anos andasse na pinocada com o vizinho, era mais caso de polícia. Cruzámos o Adige pela Ponte de Piedra, outro legado romano, e subimos a colina fronteira à cidade até ao mirador do Teatro romano onde apreciámos uma bela vista. De volta à cidade visitámos o Duomo, almoçamos uma pizza na piazza de la Signoria e subimos os trezentos milhões de degraus da torre dei Lamberti. Depois do exercício parámos um pouco na Piazza de la Erbe a comer uma frutinha para refrescar. Recuperados, cruzámos a cidade até à igreja de San Senzo, a mais bela da cidade e tivemos direito a visita privada aos frescos da torre lateral. Como o sol ainda ia alto fomos até ao museu dos frescos da cidade junto ao suposto tumulo, sim adivinharam, da Julieta que se revelou uma desilusão completa bem como o gelado sensaborão comprado no caminho. Jantámos na tratoria Pan e Vino mais um excelente templo à gastronomia local, a meu ver melhor que o da noite anterior, o ragu de lebre estava cinco estrelas o carpaccio de cavalo grelhado com sal grosso estava de chorar por mais, isto tudo bem regado. Amanhã é dia de mudança, Verona deixa saudades. Infelizmente a noite não foi muito bem dormida, os outros hóspedes da casa decidiram fazer festarola e nem convidaram.
   Castelvechio 
   Arena 
   Casa di Giulieta 
   Duomo 
   Tratoria Imperio 
   Torre dei Lamberti 
   Chiesa San Zeno 
   Tumba da Giukieta 
   Museu dos frescos 
   Tratoria Pan e Vino 
   El Galo Castaldo 


Dia 9 (20-09-2008) 192 km(s), 14 litro(s), 79.8 km/h
Burgheta(IT) . Castellar(IT) . Soave(IT) . Veneza(IT) . Mestre(IT)

Depois das despedidas e de assinarmos o livro da visita partimos em direcção a Veneza. Pelo caminho visitámos as pequenas terras de Burghetto e de Castellfranco, duas das mais pitorescas terras de Itália, assim reza a lenda mas eu não lhes achei grande piada. Almoçamos em Soave, cidade amuralhada e terra de bom vinho, a comida foi boa. Após o almoço tentámos visitar o castelo mas estava fechado, a vontade de chegar a Veneza era muita, fizemo-nos à estrada. Tínhamos reservado estadia no hotel Adria do lado de Mestre com a classificação de uma estrela, admito que estava com alguma ansiedade para o ver; foi uma agradável surpresa, sem luxos, quarto não muito grande, muito limpo, estacionamento à borla, a 100m do autocarro (15 a 15 min) directo para Veneza, com pequeno-almoço. Como bónus extra tínhamos uma mercearia do outro lado da rua cujo dono era de uma simpatia imensa e onde compramos umas belas maçãs. Por volta das 16h apanhámos o autocarro em direcção a Veneza. Guardo desta primeira viagem a seguinte imagem, do outro lado da lagoa o perfil elegante de Veneza estendia-se no horizonte banhado pela luz ao fim do dia, mais à direita e com volume completamente desproporcional três cruzeiros com uma altura maior que qualquer construção à excepção de um ou outro Campanille. Se esta imagem não dá uma ideia da quantidade de turistas na cidade, basta sair do autocarro e olhar o grande canal, ao longo das margens em todo o ponto imaginável vêem-se pessoas de câmara em punho, a olhar mapas, a seguir guias a correr para os Vaporetos. O fim de dia estava maravilhoso, com uma linda luz a banhar os edifícios. Pusemo-nos a caminho da Piazza San Marco, passámos a nova aquisição do grande canal, ponte Calatrava, cruzámos de novo o canal pela ponte degli Scalzi, percorremos os bairros de Santa Croce e San Polo até ao Rialto, por aqui a confusão ainda era maior, entrámos na corrente humana que nos levou pelas artérias pulsantes até ao seu coração, San Marco. A luz estava linda, as cúpulas do duomo refulgiam ao sol, grandes sombras já cruzavam a piazza, somente as multidões estragavam a imagem idílica. Mais uns passos e lá estava a clássica imagem de Veneza que tanto ansiava ver, numa fila ordenada várias gôndolas aguardam placidamente o pôr-do-sol com San Giorgio Maggiori em fundo. Percorremos a praça e zona circundante até que a luz se desvaneceu e começamos a retroceder os nossos passos. Jantámos num pequeno restaurante chamado Vino Vino, boa qualidade preço, mas nada comparável à já saudosa e formosa Verona, além do mais mal tínhamos espaço para as pernas e não tive como não ficar a conhecer “intimamente” o casal americano da mesa ao lado e que estavam completamente deslumbrados com “la Sereníssima”. Enfrentámos as vielas e canais às escuras, voltámos ao hotel.
   Burgheta 
   Castellar 
   Alla Roca 
   Vino Vino 
   Hotel Adria 


Dia 10 (21-09-2008) 0 km(s), 0 litro(s), 79.8 km/h
Veneza(IT) . Mestre(IT)

Logo pela manhã retomámos os nossos passos de volta a Veneza. Primeira paragem a galeria de Arte Moderna e Oriental, Ca’Pesaro, mesmo junto ao Grande Canal. É interessante, gostei particularmente dos Impressionistas no 1º andar. Digno de nota a “pequenina” colecção de artigos orientais, recolhida pelo conde de Bardi durante a sua viagem ao Japão e afins no séc. XIX. Nunca vi tanta katana junta na vida. De seguida apanhámos o tagheto de S. Lucia, ali nas imediações. Esta é a maneira mais barata, 0,5€, de experimentar uma volta de gôndola e a mais divertida de atravessar o Grande Canal, principalmente se seguirmos o exemplo dos locais e formos o trajecto em pé no centro do barco. O objectivo seguinte era uma vez mais a piazza San Marcos, decidi confiar no instinto e arriscar um corta-mato, catástrofe, a falta de mapa associada ao dia sem sol e à malha intricada de canais e ruelas levaram a que perdesse completamente o rumo e quando dê-mos por nós estávamos na margem norte a olhar para San Michelle, a ilha dos mortos, exactamente do lado oposto ao que desejávamos. Bem, pelo menos afastámo-nos das hordas e descobrimos o ponto de partida dos barcos para Murano. Comemos uma pizza por ali, não foi grande coisa, o dia cinzento também não ajudava nada, e estabelecemos nova rota. Desta vez segui passo a passo o pequeno mapa que tinha e passado pouco desembocámos mesmo ao lado da fonte dos leões em San Marcos, prova superada. Queríamos visitar o Duomo mas rapidamente mudámos de ideia, a fila estendia-se até ao canal. Não estávamos para estar algumas horas à espera por isso fomos ver o Palazzo Ducal mesmo ali ao lado, também tinha muita gente mas o acesso era rápido. Pagámos uma quantia régia pelo bilhete, mas pelo menos gastámos umas duas horas naquilo, recordo: pátio central e a escadaria dos gigantes, escadaria de ouro, aposentos do Doge, as várias salas de estado e dos conselhos, o Salão nobre, enorme com os maiores quadros que já vi na minha vida, cruzámos a ponte dos suspiros e visitámos as prisões do outro lado do canal, no fim os meus pés e rins já pediam um descanso, parámos para um capuccino. Descobrimos que o bilhete do palazzo permitia visitar mais uma série de museus na cidade e o do vidro em Murano, calha bem, estávamos a pensar lá ir. Com esta benesse aproveitámos para visitar mais uns museus na zona: Museu Correr, dedicado à vida e história da cidade, Museu de Arqueologia, advinhem lá de que trata e a famosa biblioteca Marciana, não é de Marte mas de Marcos e contém um acervo invejável e uma decoração formidável. Tudo isto fica nas galerias da piazza e valeu mais umas boas dores de rins e pés. O dia já estava longo mais ainda faltava caminhar bastante, saídos de San Marcos usámos de novo um tagheto para passar para Dorsoduro, infelizmente a basílica de Santa Maria della Salute estava fechada para obras, caminhámos depois até à Academia, pelo caminho descobrimos a localização da colecção Peggy Guggenheim que também queríamos visitar, felizmente já estava fechada, acho que não aguentava novo museu. Chegados à Academia passámos a ponte, dirigimo-nos até ao Rialto e daí a caminho da estação de comboios. Pelo caminho jantámos na Osteria Sora al Ponte, uma tasca de bairro muito agradável, como ainda era muito cedo éramos os únicos cliente e tínhamos todas as atenções. Arriscámos num risotto di pesce, estava bom mas não excelente, aliás é esta a opinião geral das refeições em Veneza, boas mas nada digno de nota. Depois do jantar e antes do autocarro de volta comprámos o passe de 24h. Amanhã vamos andar de barco.
   Ca Pesaro 
   Palazzo Ducale 
   Museu Correr, Arqueologico 
   Ostaria Sora al Ponte 
   Hotel Adria 


Dia 11 (22-09-2008) 0 km(s), 0 litro(s), 79.8 km/h
Veneza(IT) . Murano(IT) . Mestre(IT)

Hoje o dia é de descanso para os pés, assim sendo, logo à chegada fomos à procura de um Vaporetto que nos levasse até San Marcos. Eram 9h, o sol brilhava, apanhámos a linha 2 (mais rápida do que a 1, quase sem turistas e vê-se todo o Grande Canal na mesma a uma velocidade agradável). Pelo caminho muitas fotos dos palazzos, da Ca D’oro, do Rialto. Estando num barco apercebemo-nos de como aqui tudo gira à volta da água e do transporte anfíbio, todo o transporte de mercadorias, de pessoas, ambulâncias-barco, funerárias-barco e até vimos o barco dos bombeiros em marcha de emergência. Trinta minutos volvidos chegámos à fila do Duomo, já se formava porque as portas ainda estavam fechadas, mas nada que se comparasse ao dia anterior. Estávamos nós pacientemente na fila quando fomos angariados para uma visita guiada, era caro mas pelo menos passávamos à frente da malta toda, assim foi, subimos à galeria exterior onde nos foi dada uma explicação da cidade, da Piazza, do relógio e do Duomo em si. No interior pudemos ver a quadriga original, no mínimo impressionante, e os tectos em mosaico de ouro, cerca de 8000 m2, mais coisa menos coisa. Não tenho palavras que expliquem a grandiosidade, só visto. No fim descobrimos que o r/c, já que é um templo católico, se pode visitar sem custos, mas mesmo assim valeu a pena a visita guiada. De seguida refizemos os passos do dia anterior e fomos até à fundação Peggy Guggenhein. O espaço é muito agradável, um palazzo inacabado junto ao canal com um belo jardim cheio de esculturas e uns portões fantásticos de ferro com vidro de Murano embutido, do lado do canal a exposição permanente de arte contemporânea, não posso dizer que seja a minha favorita mas vale a pena, na varanda sobre o canal, O Cavaleiro, uma das esculturas mais provocadoras que já vi. Estava também presente uma exposição temporária alusiva a cem anos de pintura Norte-Americana (1850-1950), muito interessante. De seguida almoçamos uma vez mais nas ruas, belas pizzas, desta vez a caminho do barco para Murano situado na zona norte da cidade. A viagem para Murano não dura mais de 15 minutos parando em San Michelle no caminho. A ilha é uma versão em miniatura e muito mais sonolenta de Veneza, aqui as hordas de turistas são menores estando concentradas à porta dos fornos vidreiros a ver os artesãos a moldarem as peças de vidro. Também o fizemos é claro, ficámos cerca de meia hora a ver os trabalhadores a debitarem as mais diversas peças, pratos, copos e garrafas de diversas cores e feitios. O ambiente parecia uma oficina à antiga com posters de gajas nuas e tudo. De seguida fomos visitar o museu do vidro que retrata bem a história e a evolução das técnicas, gostei particularmente da exposição de vidro contemporâneo. Decidimos voltar para Veneza, desta feita apanhámos o vaporetto directo para San Marcos, como o dia estava bonito fomos sentados no exterior. De caminho vimos o Arsenal, umas gôndolas em “alto mar” e cruzamo-nos com um grande paquete, ao todo a viagem durou 45 minutos e foi muito divertida. O dia já estava a chegar ao fim e iniciamos o derradeiro retorno. Depois de umas compras no Rialto, parámos numa esplanada, perto do mercado do peixe, a fazer horas para jantar. Decidi experimentar uma bebida laranja que toda a malta parecia adorar, chama-se Frize e é … HORRIVEL, ou então aquela não prestava, a esplanada era de chineses o que nunca é de fiar.
Jantámos na Tratoria al Ponte Meggio, refeição razoável, pedi Spagheti scampi al fiori di Zuca (nao dei pelas flores) e um bom bife atum, para sobremesa uma Panacota. Na mesa ao lado duas Japonesas sozinhas viam-se aflitas com o menu, foi divertido de ver e não foi preciso ajudar. Finalmente chegámos ao autocarro, eram 23:00 mas a noite ainda nos guardava uma última pérola: Um casal de Brasileiros, que não faziam a mais pequena ideia de onde era o hotel decidiram questionar em Português um casal de Nórdicos ali sentados, não só não fizeram o mínimo esforço para se fazerem entender como ainda escolheram os interlocutores com a menor probabilidade de os compreenderem, mas será que esta malta não sabe que a probabilidade de alguém falar Português em Itália é diminuta. Assim vão longe pensei, estava a me dirigir para os ajudar quando decidiram ir questionar o motorista, o filme repetiu-se, o motorista lá entendeu o nome do hotel e gesticulou para que ficassem quietos e calados que ele indicaria a saída. A nossa aproximava-se, saímos.
   Duomo 
   Peggy Guggeneim 
   Pizzas 
   Tratoria al Ponte Meggio 
   Forno vidreiro 
   Museu Vidro 
   Hotel Adria 


Dia 12 (23-09-2008) 225 km(s), 16 litro(s), 75.5 km/h
Mestre(IT) . Belluso(IT) . Tai di Cadore(IT) . Niederdorf(IT)

Veneza deixa-nos com um misto de sentimentos, a aversão inicial deu lugar a um agradável contentamento e até um certo respeito pela cidade, no entanto, já ansiávamos pela solidão das montanhas, foi por isso, com alegria, que nos fizemos à estrada rumo a norte e às Dolomites. A manhã foi passada através dos campos do Veneto, por entre as suas villas, vinhas e muitos vilarejos. Por volta da hora de almoço já nos encontrávamos em Belluso, onde aproveitámos para almoçar. Apesar de já estarmos nas montanhas, um tecto de nuvens pesado e muito baixo impossibilitava a vista de qualquer pico. Perto de Pieve di Cadore seguimos umas placas que diziam “Cascata dei Pissandro”. Percorremos o trilho, mais ou menos 30 minutos, através da floresta até á dita cascata, não era muito grande, mas como todas tem o seu encanto. No caminho pudemos observar algumas salamandras que passeavam pachorrentamente na terra húmida de chuva por entre as raízes dos abetos. Foi bom respirar ar puro de novo. Dali continuamos até Cortina d’Ampezzo através de uma estrada sinuosa, de quando em vez o sol espreitava e permitia vislumbrar as magnificas montanhas, a paisagem é assombrosa, verdadeiramente das mais belas dos Alpes. Em Cortina o céu literalmente desabou sobre as nossas cabeças e foi sobre uma chuva inclemente que cruzámos as montanhas para Dobiacco perto da qual iríamos pernoitar. Quando chegámos ao hotel, Weiherbad, a chuva parou. Gostámos imediatamente do local, protegido da estrada por um rio e uma mata frondosa, parecia um oásis de calor na noite fria. Este hotel fica como um dos melhores onde já estive, o que não tem em serviços ou luxos sobra em simpatia e atenção, sem descurar o conforto e qualidade de instalações. Em toda a nossa estadia fomos bombardeados com carinhos e mimos, na recepção (onde nem foi preciso dizer quem éramos), nos chocolates no quarto, ao jantar com mensagem de boas vindas na mesa que nos reservaram, na absoluta sensação de bem estar emanada por todos, simpatia e conforto em abundância. Jantámos como reis um belo Geworstl (Carne porco guisada com batatas e cebola) e uma truta. Agora só falta o tempo melhorar tudo ser perfeito.
   Buca 
   Cascata del Pissandro 
   Gasthoff Weierbad 
   Gasthoff Weierbad 


Dia 13 (24-09-2008) 130 km(s), 9 litro(s), 73.3 km/h
Misurina(IT) . Cortina d'Ampezo(IT) . Misurina(IT) . Niederdorf(IT)

O dia amanheceu limpo e frio, um sol radioso iluminou-nos o quarto e finalmente pudemos apreciar a paisagem circundante. Depois do pequeno-almoço fomos investigar a zona de Misurina, a paisagem estava fantástica, as montanhas recortadas num fundo azul e muita, muita neve. Estávamos indecisos em fazer o trilho dos Tre Cime, três monólitos de pedra impressionantes verdadeiros ex-libris da região ou subir ao refúgio Funda de Savio localizado na crista da Cadini di Misurina numa posição impar. A neve era muita e uma nuvem solitária rodeava as Cime por isso optámos pela segunda opção. Foi um passeio espectacular, começamos a caminhar com -2ºC e somente nas zonas mais expostas não tinhamos neve. Pontos altos: A floresta resplandecente ao sol da manhã; Subida para o refúgio numa encosta nevada ajudado por cabos; o refúgio; a descida pelo vale de Pian degli spiriti e a vista o Cristallo e o grupo de Sorapis. Ao todo o percurso circular ocupou-nos umas 3:30, terminando no lago de Antorno onde aproveitámos para almoçar. Á tarde fomos visitar o lago Misurina, Cortina, e voltámos ao hotel pelo vale de Alta Badia passando pelo passo Falarengo, um passeio espectacular. Quando finalmente chegámos ao hotel já as temperaturas tinham voltado aos negativos. O jantar foi uma vez mais excelente. Que dia maravilhoso.
   Rif Fonda di Savo 
   Ostelaria lago Antorno 
   Cortina 
   Gasthoff Weierbad 
   Gasthoff Weierbad 


Dia 14 (25-09-2008) 112 km(s), 9 litro(s), 71.3 km/h
Dobbiaco(IT) . Lago Braies(IT) . Prato Piaza(IT) . Niederdorf(IT)

Mais uma radiosa manhã. Hoje o objectivo é o trilho das Tre Cime di Lavaredo. Infelizmente o azar abateu-se sobre nós, mal peguei o carro que o senti estranho, está muito frio pensei, mas á medida que andávamos a potência teimava em não aparecer, a certo ponto só em terceira conseguia andar. A “Taxa” a nossa fiel companheira de viagem não estava bem. De volta ao hotel recomendaram-nos a oficina Zelder em Dobiacco e lá fomos. O diagnóstico era até simples, um cachimbo de vela pifado, infelizmente o arranjo só estaria pronto pelas 15:00 e ainda eram 11:00. Optámos por caminhar até ao lago Dobiacco, o que até se revelou agradável, se bem que fraco substituto para os Tre Cime. Almoçamos no lago e às 15:00, como prometido, já tinhamos a “Taxa” de volta e em forma. Confesso que tive algum receio de passar pela experiência de uma oficina em Itália mas só posso dizer que fiquei muito bem servido, a horas, exactamente o orçamentado e o mecanico ainda nos deu dicas de sitios para ver nas redondezas. Como ainda tinhamos algumas horas de sol fomos passear até ao lago di Braies, provavelmente um dos mais belos da região. Encaixado entre paredes escarpadas dizem que a sua cor muda constantemente com o angulo do sol. Por esta altura o sol já tinha desaparecido ocultado por nuvens altas, mesmo assim comprovo que é um local de grande beleza. Percorremos o trilho que rodeia todo o lago e já a luz declinava quando terminámos. De volta ao hotel tempo ainda para espreitar o planalto de Prato Piazza num vale próximo. O acesso, durante o dia, é restrito ao número de lugares de estacionamento no topo, mas a esta hora já se podia passar sem problemas. Lá em cima o cenário era magnífico, a Croda Rossa e a Cadeia do Cristallo formavam um cenário fantástico ao crepusculo, na direcção oposta a encosta do pico Vallandro tornava-se vermelho sangue ao por-do-sol. A temperatura caía a pique, aguentei o que pude no vento cortante que agora se levantava e foi a custo que me obriguei a deixar aquele local mágico, tão mágico que decidi voltar lá no dia seguinte e esquecer as Tre Cime. O jantar de novo excelente, desta vez tive direito a Polenta al funghi. Apesar do precalço acabou por ser um dia bem passado.
   Lago Dobiacco 
   Ristorante al Lago 
   Lago di Braies 
   Prato Piaza 
   Gasthoff Weierbad 
   Gasthoff Weierbad 


Dia 15 (26-09-2008) 45 km(s), 3 litro(s), 70.6 km/h
Prato Piaza(IT) . Niederdorf(IT)

Hoje faço anos, parabéns a mim. Conforme combinado, bem cedo para aproveitar o dia, lá nos dirigimos para Prato Piazza. O dia estava de novo maravilhoso. Fiquei apaixonado pela grandiosidade da Croda Rossa, assim conhecida pelas vertentes vermelhas e pelo Cristallo, um conjunto impressionante de cristas escarpadas que formam um dos mais singulares e elevados grupos das Dolomites. Fizemos o caminho até ao alto do Monte Specie, mais ou menos 3 horas. A cerca de 2300m fomos brindados com um panorama circular impressionante, a Norte o vale de Dobiacco, a Este o pico Vallandro, a Sul, em primeiro plano, o Cristallo () em tons de azul a Croda Rossa e a Croda del Becco (junto ao lago di Braies), por detrás um rol infindável de outros picos, lá muito longe o Marmolade a mais elevada das Dolomite, a Oeste o Monte Pianno, palco de uma das maiores carnificinas da primeira grande guerra, os Tre Cime di Lavaredo e as Cadini di Misurina. Esta é uma das mais belas vistas da região e de relativo fácil acesso. De volta a Prato Piazza almoçamos, já a horas tardias, no hotel aí situado , depois ainda passeámos um pouco pelos pastos em volta antes de voltar para o hotel, para um merecido descanso. O jantar foi deveras fabuloso, por ser aniversariante, tive direito a menu especial, bebidas e um Eislieber, sobremesa deliciosa, em dose XXXL, foi simplesmente fabuloso. Fizemos as contas antecipadamente porque no dia seguinte toda a equipe do hotel ia partir para o Oktoberfest em Munique e aproveitámos para nos despedir e agradecer os dias aqui passados já que também partiriamos no dia seguinte. Temos de voltar, quer pelas montanhas, quer pelas pessoas, além disso fiquei muito interessado em experimenar as vias ferratas que por aqui abundam.
   Mt Specie 
   Hotel Hohe Gaisl 
   Gasthoff Weierbad 
   Gasthoff Weierbad 


Dia 16 (27-09-2008) 212 km(s), 13 litro(s), 68.3 km/h
Vipiteno(IT) . Innsbruck(A) . Garmisch(D)

Foi com bastante tristeza que nos afastámos deste local. Não fosse o facto de ainda ficarmos pelas montanhas e seria um pouco depressivo. Mais uma manhã soalheira, conduzimos calmamente pelo vale de Brunico, inflectindo depois para norte em direcção á Áustria. Antes da fronteira fomos visitar Vipiteno que por essa altura comemorava a festa do tapete vermelho, as ruas estão literalmente atapetadas e abundam as banquinhas de artesanato, comes e bebes. Á excepção de uma torre medieval e uma igreja com frescos interessantes, esta terra tem pouco para oferecer. Continuamos para norte através de uma das mais feias fronteiras que conheço e entrámos na Áustria. Decidimos almoçar em Innsbruck que fica mesmo no caminho para Garmisch. Pelo caminho parámos um pouco a admirar a porte da Europa, um mega viaduto com 192 m de altura, e uns malucos que faziam bungee jumping do tabuleiro, digno de nota o facto de que esta ponte foi equipada com plataformas especificamente para esta prática. O almoço em Innsbruck foi para esquecer, escolhemos uma esplanada mesmo na praça central junto ao telhado dourada, o ex-libris do sítio, o empregado era pedante, a comida gordurosa e o local ruidoso. Foi com alívio que nos fizemos à estrada. O resto do caminho é bastante bonito pelas montanhas até Garmisch. Para não desperdiçar um fim de dia tão bonito fomos directos até ao Eibsee dar um passeio. Para não variar toda a cordilheira desde o Alpspitze até ao Zugspitze se encontravam envolvidas num manto de nuvens, já é a segunda vez que aqui venho e nunca tive a oportunidade de apreciar os seus picos. Aproveitámos o fim do dia e a bela luminosidade no lago enquanto lentamente as nuvens lá em cima pareciam querer levantar, pode ser que amanhã seja um bom dia. Fomos até ao nosso alojamento, Host Jorgl, um velho conhecido do ano passado que muito nos agradou, desta vez tivemos direito a quarto com varanda para o jardim. Para jantar fomos matar saudades ao Wildschutz, na minha opinião um dos melhores locais para comer na Baviera, tectos baixos, ambiente acolhedor, bom serviço, comida boa, cerveja óptima. Na boa tradição Bávara partilhámos mesa, desta vez com um casal alemão, ele vendedor, ela quadro superior num seminário. Acabámos por conversar um pouco, sobre férias e sobre nós. Foi um pedaço bem passado.
   Na esplanada 
   zum Wildschutz 
   Host Jorgl 


Dia 17 (28-09-2008) 15 km(s), 1 litro(s), 67.8 km/h
Garmisch(D)

A manhã brindou-nos com a mais fabulosa vista da varanda do nosso quarto, o Alpspitze em toda a sua imponência perfeitamente recortado num magnífico céu azul. Finalmente um dia de sorte por estas bandas dos Alpes. O objectivo era subir ao topo do Alpspitze, de preferência pela ferrata, mas cá de baixo pareceu-me que havia um volume excessivo de neve para esta altura do ano. Apanhámos o teleférico até à estação superior da Alpspitzebahn, chegados ao topo confirmámos os nossos receios, à excepção da plataforma toda a montanha estava com uma generosa camada de neve. Apreciámos um pouco a malta que dali saía em Parapente e pensei em como gostaria de experimentar principalmente num dia maravilhoso como este, depois fizemo-nos ao caminho. Pouco depois chegámos ao início da ferrata, e perdi as ilusões. Tinha a esperança de que fosse um caminho mais íngreme com auxílio de cabos, mas revelou-se areia a mais para a nossa camioneta. O resto da malta estava toda equipada e nós não tivemos coragem para nos aventurar por ali sem a segurança dos arneses. Em alternativa optámos por cruzar o Nordwandsteig, caminho que atravessa a face norte da montanha, bastante estreito e também equipado mas pelo menos plano. Infelizmente a parede norte mantém o caminho permanentemente à sombra o que resultou num piso extremamente escorregadio devido à camada de gelo sob a neve da noite, a certa altura comecei a recear uma queda o que ali seria desastroso, mas porque é que não trouxe os crampons? Voltámos para trás. Bem a coisa já estava a chatear, não subíamos a ferrata porque era perigoso, o Nordwandsteig estava perigoso … só nos restava descer a montanha. Antes de voltar ao teleférico fizemos um pequeno desvio até ao Hollentorkopft de onde se disfruta uma bela vista do vale de Hollental e do Zugspitze. A descida para o vale estava, adivinharam, perigosa. No caminho encontrei uns óculos de leitura na neve, chegados à passagem perguntei a um senhor mais velhote que por ali estava se por acaso eram os óculos dele. Ele pareceu confuso, gesticulou que não, depois parecia que me queria comprar os óculos e depois finalmente percebeu e deu pela falta dos seu próprios óculos, ao que parece encontrei o dono. Almoçamos na estação de teleférico rodeados de Americanos broncos que estavam com bastante dificuldade em nos situar, pensavam eles: os gajos não são Alemães mas estão à vontade, falam inglês, francês e até espanhol … mas não são nada disto? Que raio parecem Italianos, mas não são …. Depois do almocinho, uma sopa de lentilhas e uma caneca de Weiss, começamos a descer a montanha, primeiro fomos até ao teleférico de Hochalm e depois até ao de Kreujhoch, chegados aqui parámos um pouco no hut a lanchar, KaiserMarcht e mais uma Weiss. De seguida apanhámos o teleférico para baixo, este é mais pequenito, as cabines parecem ovos espaciais. Antes de terminar o dia fomos espreitar o estádio olímpico e os seus trampolins de salto, o trampolim mais recente e mais alto estava em obras de manutenção e apesar das proibições, subimos até ao topo do mesmo, foi espectacular. Este dia foi maravilhoso, apesar dos contratempos, terminou com mais um jantar no Wildschutz, desta vez à mesa com Dinamarqueses imensos.
   Alpspitze 
   zum Wildschutz 
   Host Jorgl 


Dia 18 (29-09-2008) 213 km(s), 13 litro(s), 66.8 km/h
Oberamergau(D) . Garmisch(D)

Hoje, apesar do belo dia de sol, decidimos poupar as botas. Estávamos divididos em ir visitar a região ou subir de novo ao maciço, a neve acumulada e a previsão de mudança de tempo fizeram-nos optar pelo passeio. Começamos a manhã pela visita ao mosteiro de Ettal, famoso pela sua cerveja artesanal, alberga uma escola secundária nos antigos alojamentos e tem uma igreja barroca muito bonita. Conduzimos depois até Fussen, terra vizinha do famoso Neuschwanstein, pelo caminho cruzámos a fronteira para a Áustria e percorremos as margens do Plamsee, o que resultou numa das mais belas fotografias da viagem. Em Fussen visitámos o castelo e a abadia. Para almoçar fomos até Oberammergau experimentar um restaurante que nos tinha sido recomendado por amigos, o Zauber stubn, este restaurante pertence a um professor da escola da Nato e mágico semi amador, resultado, simpatia no acolhimento, menus em todas as línguas dos países da Nato e números de magia à mesa, isto tudo acompanhado de um Axe e uma Weiss. Foi um bocado muito bem passado. Depois de almoço, já o céu azul tinha sido substituído por um tecto cinzento, fomos visitar a terra. Adorei as fachadas pintadas, a minha favorita a fachada do Hensel e Gretel, e as múltiplas lojas de artesanato em madeira. Para terminar a tarde visitámos a WiesKirche, mais uma igreja barroca, esta património da humanidade. Esta igreja é muito conhecida e o síndroma das excursões japonesas faz-se sentir. Tarefa habitual para quem a visita é encontrar, no tecto, o anjinho papudo cuja perna se projecta do fresco em escultura. Tarefa realizada, voltámos a Garmisch. Nova jantarada no Wildschutz, desta vez, travámos conversa com um simpático grupo de brasileiros.
   Zaubersutbne 
   zum Wildschutz 
   Host Jorgl 


Dia 19 (30-09-2008) 13 km(s), 2 litro(s), 66.4 km/h
Munique(D) . Garmisch(D)

O dia hoje amanheceu cinzentão. Mesmo receando a chuva, que nunca chegou a cair, fomos até a um trilho de uma terra próxima para ver as cascatas de Kuhfluchtbach. È preciso percorrer a floresta cerca de uma hora até chegar a uma ponte sobre o rio de onde se tem uma bela vista da encosta. A manhã estava imersa numa atmosfera adormecida com um ou outro raio de sol, tudo brilhante da chuva da noite, o cheiro a terra molhada inundava-nos. Estávamos nós na dita ponte quando aparece uma moçoila germânica que assim que pensou que estava sozinha se despe e qual ninfa, em cueca e soutiã, se enfia no ribeiro para uma banhoca refrescante. Fiquei parvo a olhar para aquilo, aquela água deve estar gelada, pensei, e ainda por cima o vale estava à sombra. Enfim cada maluco com a sua mania, podia-lhe dar para pior. À tarde decidimos não perder a oportunidade de ir até à Oktoberfest em Munique. Para isso apanham o comboio das 12h, 27€ viagens ilimitadas em todos os transportes da Baviera para 2 num dia (nada mal), que nos deixou na estação central 1 hora depois onde apanhámos a U-bahn até à Theresienwiesen. Gente, muita gente. Novos, velhos, gordos magros, para todos os gostos e feitios, muitos deles com os tradicionais calções e muitas outras variantes de trajes típicos, por todo o lado se cruzavam o orgulho a identidade popular bávara com a loucura juvenil e turística, tudo a acotovelar-se por entre bancas de souveniers, comidas e divertimentos, tal e qual uma feira popular desmesurada, inchada em tamanho, pessoas e frenesim. Como quem vem aqui, vem para beber, entrámos numa das muitas tendas gigantes, escolhemos a Hoffbrauhaus. Se no exterior roça a confusão, dentro das tendas reina a loucura com um toque de esquizofrenia. Banda a tocar, pessoal a cantar, muita cerveja a rolar, grupos de amigos, verdadeiros e de ocasião, fumo, encontrões, gargalhadas, bonés idiotas, malta de rastos, braços de ferro, meninas carregadas de canecas, assim é a zona central da tenda onde encontrámos refúgio na mesa de um grupo de alemães divertidos que nos acolheram e com quem confraternizámos. A alegria é contagiante e o método de propagação são as canecas de 1L de boa cerveja. Brindámos, cantámos, trocámos piropos. Atrás de nós um grupo de Australianos dedicava-se a brindes cada vez mais violentos, de macho, resultado, duas canecas cheias de precioso líquido partiram-se e a cerveja perdeu-se, não contive o riso ao ver o ar de desalento na cara dos marmelos. Ao todo estivemos uma hora na tenda, saímos em busca de comida, comi um bretzell gigante como não podia deixar de ser. Demos a volta à feira, comprámos uma caneca, espreitámos mais umas tendas, usei os mijatórios uma data de vezes. Às 16h já estávamos cansados de tanta malta, saímos da Fest fomos até a uma esplanada da Marienplatz. Às 17h assistimos ao espectáculo do relógio da torre. Um francês que por ali estava, bem bebido, presumo, e aborrecido de morte, desatou aos berros durante as voltinhas dos bonecos, imediatamente a multidão desvia o olhar da torre em direcção ao motivo de tal alvoroço o que resulta num ataque de riso monumental. De volta a Garmisch fomos em busca de jantar, Wildschutz estava fechado porque como nós tinham ido à Octoberfest, por isso seguimos a recomendação do nosso alojamento e fomos até ao Mohrenplatz, menos acolhedor e não se partilha mesas. O serviço é simpático mas faltam os corpetes das meninas. A comida é boa bem como a cerveja, mas faltava qualquer coisa, faltava o Wildschutz.
   Mohrenplatz 
   Host Jorgl 


Dia 20 (01-10-2008) 798 km(s), 57 litro(s), 70 km/h
Karlsruhe(D) . Bruxelles(B)

Este foi um dia miserável, muita chuva, muito vento, muito trânsito, muitas obras, muitos kms.
Ao almoço o WC pagava-se mas o seu custo podia ser deduzido no preço da refeição, pareceu-me uma ideia engraçada para financiar limpeza das casas de banho nas estações de serviço. No Luxemburgo, onde atestámos o depósito, caía um autêntico Dilúvio. Somente à vista de Bruxelas, já o sol declinava, sentimos uma melhoria na tempestade que nos perseguiu a tarde toda. Encontrámos a nova casa da Steph, moradia geminada, no interior de Bruxelas com um jardim de 300 m2, muito bem equipada como sempre nos habituaram, um sonho. Revimos os nossos amigos e pusemos a conversa em dia, sentimo-nos velhos a olhar para os miúdos, trocámos presentes. À noite fomos jantar a um dos melhores restaurantes italianos da cidade, Stelle, local de peregrinação das personalidades e templo da boa cozinha. Local afectado demais para o meu gosto mas muito boa comida.
    A8 
   le Stelle 
   Stephanie 


Dia 21 (02-10-2008) 0 km(s), 0 litro(s), 70 km/h
Bruxelles(B)

Hoje o dia foi de quase descanso. De manhâ fomos de metro até à baixa. O dia estava muito frio com nuvens carregadas e a ameaçar chuva, de vez em quando o sol espreitava. Aproveitei estes rasgos de sol para fazer algumas fotografias dos edifícios da Grand Place. Fomos ver o Manneken-Pis (porque somos turistas) e depois andámos à procura da Jeanneken-Pis, a versão feminina. Andámos um pouco às voltas mas lá a achámos. Almoçamos na Grand Place no la Brouette, sitio muito acolhedor com muita madeira e lareira. Comemos uma waterzooi, uma espécie de canja com legumes e natas Depois do almoço, fizemos as compras dos chocolates para levar para casa, este ano a loja eleita foi a casa Leonides, cuja qualidade preço nos pareceu excelente. Antes de voltar para casa fomos até ao jardim botânico e depois decidimos ir a pé até à estação de metro seguinte. Pelo caminho passámos por um bairro muito manhoso onde vimos, em plena via pública, dois bacanos a trocar as chapas de matrícula de um Seat Córdoba, estavam a tirar umas placas Espanholas e pôr outras Belgas, muuuuuuito estranho. Mal chegámos a casa, as nuvens que todo o dia ameaçaram finalmente cumpriram a ameaça numa carga de granizo brutal. Fomos jantar a casa da Natalie onde pudemos “matar saudades” e pôr a conversa em dia, quer nós quer o Pepe e a Steph que apesar de serem vizinhos na mesma cidade raramente se vêm. Conversa puxa conversa, copo puxa copo já era quase 1 da manhã quando nos deitámos. Amanhã vai ser duro acordar às 6, ai ai ai.
   la Brouette 


Dia 22 (03-10-2008) 1156 km(s), 91 litro(s), 74.8 km/h
Paris(F) . S Jean de Luz(F) . Biriatou(F)

Despedimo-nos bem cedo de Bruxelas do Pepe e da Steph. Ainda não era hora de almoço e já rolávamos na cintura interior de Paris, quase não apanhámos trânsito. O almoço numa estação de serviço não deixou saudades, nem o resto da tarde a rolar, rolar, rolar. O sol já se punha quando, junto à fronteira Espanhola, saímos da autoroute em busca do nosso hotel, Les Jardins de Bakea, na terra fronteiriça de Biriatou. A saída estava em obras e por pouco que a falhávamos. O hotel tem muito bom aspecto, com um restaurante de muito bom nível, infelizmente o quarto não correspondeu às expectativas: andámos kms em corredores exíguos e labirínticos até chegar ao quarto que é pequeno e atravancado, já velhote, a porta da cas de banho não dá qualquer privacidade e o duche não tem resguardo, mas será que em França não é possível ter alojamento simples e bom? Mas não era tudo, depois do jantar em St Jean de Luz, fomos brindados com uma sessão de ritmos sexuais, que nós carinhosamente apelidámos de “máquina de lavar em programa de centrifugação descontrolado”, provenientes de um dos quartos vizinhos. Espero que me compreendam, não tenho nada contra os meus vizinho, só fico chateado com as paredes de “papel”. A viagem já está a acabar, é só mais esta noite … ufff.
   A10 
   La Diva 
   Les Jardins de Bakea 


Dia 23 (04-10-2008) 994 km(s), 78 litro(s), 78.4 km/h
Irun(E) . Fundao(PT) . Lisboa(PT)

Saímos do hotel ainda o sol não tinha nascido. Tomámos o pequeno-almoço na auto-estrada já em Espanha tendo por companhia os camionistas que, depois de passar ali a noite, se preparavam, como nós, para mais um dia de estrada. Nada há a reportar durante a manhã, a não ser os intermináveis e entediantes kms em Espanha. Aproveitando a mudança de hora conseguimos chegar ao Fundão a tempo de almoçar. Abençoada cozinha beirã, as saudades que eu já tinha. Á tarde, mais kms, sempre a bom ritmo. Eram 16 horas quando chegámos à Ericeira, sentámo-nos na esplanada das furnas, aspirámos o ar do mar, enchemos a vista de azul profundo, aquecemos os ossos com o maravilhoso sol Português, bebi uma imperial bem fresca. Estamos de volta.
   O Mario 




23 dias de 12-09-2008 a 04-10-2008
6765 kms (294 /dia)
498.7 litros (22 /dia) 7.3 aos 100
78.4 km/h (86 h)
 
    Imbut
    Bigoli di Verona, Vaporetto Veneza
    Dolomites, Weierbad
    Alpspitze
    Auberge des Cretes
    Turistas em Veneza
    Innsbruck
    Garmisch->Bruxelas